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Reforma Protestante e Humanismo/renascimento

A facção Protestante de Zurique, comandada Por Ulrico Zuínglio, tinha como preocupação central, um programa de reforma social, política e religiosa que refletisse os interesses mais abrangentes das confrarias humanistas suíças da sua época.

Devido à mudanças no interior das estruturas de política e de poder da região, o programa da Reforma Protestante associado a Zuínglio, mudou sua geografia, migrando seu centro político de Zurique, passando por Berna  e por fim Genebra.

A Facção Protestante presente no corpo docente de Teologia da Universidade de Wittemberg, que girava em volta de Martinho Lutero e de Karlstadt, preocupou-se inicialmente com pouco mais do que modificar o currículo teológico da Universidade.

Em virtude de vários acontecimentos históricos relevantes, esse núcleo de Wittemberg, acabou protagonizando um programa de reforma política, social e religiosa que cresceu consideravelmente além dos muros de sua Universidade para abranger toda a sociedade alemã e parte da Europa na época.

Zuínglio, foi profundamente influenciado pelo humanismo do quattrocento, oriundo das universidades de Viena e Basileia do fim do século XV. Uma das maiores influências sobre os reformadores desse ciclo foi uma atenuação suave da importância das perspectivas religiosas da Antiguidade.

Os clássicos gregos e latinos disputavam espaço com os pais da Igreja na Biblioteca de Zuínglio em Einsiedeln, entre 1516 e 1518, também tinha primazia nessa biblioteca, um exemplar do texto grego do Novo Testamento.

Atento à máxima de Santo Agostinho que dizia que “toda a verdade vem de Deus”, Zuínglio, subordinou os escritos da Antiguidade às Escrituras. Também devemos dar destaque na Biblioteca do Reformador, às obras de Erasmo, todas fartamente com anotações, que indicam que foram bem lidas, também crescia cada vez mais seu interesse pelas obras de Lutero no decênio de 1520.

Zuínglio conhece Erasmo em 1516 na Basileia, na época em que este estava terminando a sua Edição do Novo Testamento em grego. Zuínglio aprendera grego em 1513 e em 1516 já dominava o Novo Testamento  nesse idioma e assim, como muitos outros, tomou conhecimento das deficiências do Texto da Vulgata de Jerônimo.

A Teologia de Zuínglio

Como Reformador, Zuínglio a principio reflete também a postura de Erasmo em relação à herança do período da Patrística. Para ele, Agostinho não tem protagonismo. Jerônimo e Orígenes disputam o título de summus inter theologos.

Porém, quando Zuínglio, passou a estudar seriamente Agostinho para seu programa de reforma doutrinária na década de 1520, não o fez em sintonia com a doutrina da Graça, (como fez Lutero). Zuínglio julgou de utilidade a teoria da significação da Agostinho para a construção de sua teoria da presença real na eucaristia, em meados da década de 1520.

Utilizando métodos históricos e teorias de evidência ao estilo de Valla, Zuínglio solapou as práticas religiosas do celibato clerical e da comunhão somente do pão na ceia, apontando que iam de encontro aos fatos históricos.

Zuínglio, seguindo Erasmo, adota um método hermenêutico baseado em Orígenes, que atribui grande ênfase ao sentido moral das Escrituras. O Novo Testamento é interpretado como fonte da Lex divina, que pode ser contrastada com a lex humana da lei canônica e mais tarde com a lei eclesiástica.

Durante o primeiro ano que Zuínglio passou em Zurique (1519), parece ter pregado um programa de reforma moral e espiritual parecido com o ensino de Erasmo contido no Enchiridion. As práticas do celibato clerical, da comunhão na ceia com apenas o pão, a oração pelos mortos e a adoração de imagens são criticadas à luz das Escrituras, mas o reformador ainda não tinha formulado nenhuma teoria sobre elas.

O início de Zuíngio como um reformador doutrinário se inicia após 1520, provavelmente por conta da Influência de Lutero sobre o mesmo. Provavelmente a reforma doutrinária de Zuínglio não seja original, mas sim copiada dos evangélicos de Wittenberg.

A Teologia de Wittenberg (Lutero)

É na facção Evangélica de Wittenberg que encontramos todo o aparato doutrinário inicial da Reforma Protestante já presentes desde 1510. Enquanto Zuínglio estava inicialmente voltado para uma reforma social que mais tarde também buscou aparato doutrinário, os professores de Teologia de Wittenberg estavam interessados, a principio, em um programa de reforma acadêmica focalizado no currículo teológico da Universidade de Wittenberg.

Os contextos sociais dos dois grupos de reformistas eram diferentes: Zuínglio se propôs reformar uma grande cidade, que expulsara Lucerna da condição de líder da Confederação Helvética. Enquanto Lutero e seus pares, tinham como objetivo inicial a reforma do corpo docente de teologia de uma das menores Universidades da Europa.

A Reforma Protestante iniciada em Wittemberg é datada de 1518, quando os membros do corpo docente de teologia se reuniram no alojamento do seu decano, Karlstadt. O primeiro grande consenso advindo dessas reuniões, foi como respeito às Escrituras: A teologia se baseia nas Escrituras, lidas em suas línguas originais.

A formação de uma faculdade trilíngue em Wittemberg pode ser considerada reflexo da influência do humanismo. Também são reflexos dessa influência a eliminação das obras de teologia medieval do currículo e um novo interesse pela patrística que denotava traços da convicção humanista de que na idade média houve uma lacuna intelectual.

Porém, também haviam diferenças entre critérios utilizados pelo Humanismo e pelos reformadores alemães, por exemplo, a autoridade da Bíblia não residia em sua antiguidade e eloquência, mas por ser a própria Palavra de Deus.

Com esse critério puramente teológico, a Bíblia se tornou para os reformadores, o único fundamento da Teologia cristã e paralelamente a isso, havia também uma ênfase renovada na importância dos escritos antipelagianos de Santo Agostinho.

Portanto, verifica-se que Lutero e Carlstadt recorreram a um critério explicitamente teológico para identificar Agostinho como  summus theologus e não apenas critérios de eloquência e antiguidade como faziam os humanistas do Renascimento.

Referências do Artigo: Humanismo, Renascimento e Reforma Protestante – Zuínglio e Lutero

A Gênese da Doutrina. Alister E. Mcgrath. Vida Nova


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