O Sermão da Montanha pregado por Cristo, encontrado nos Evangelhos, veio subverter a ordem da Sabedoria humana, tanto a Judaica ou oriental quanto a Grega ou ocidental. Os judeus achavam que as bençãos de Deus estavam sobre os que tinham muitos bens materiais, e os sábios gregos criticavam e buscavam a sua emancipação da matéria. O Cristianismo veio dizer que matéria e espírito fazem parte da mesma moeda, e na ressurreição o espirito se juntará ao corpo novamente, ambos formando um novo corpo glorioso. Os judeus já sabiam da ressurreição do corpo, mas não sabiam que: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. Mateus 5:3-12 _________________________________________________________________________________________________ “A mensagem cristã assinalou sem dúvida a mais radical revolução de valores da história humana. Nietzche chegou a falar até de total subversão dos valores antigos. Segundo o novo quadro de valores é preciso retornar à simplicidade e à pureza da criança, porque aquele que é o primeiro segundo o juízo do mundo será o último segundo o juízo de Deus e vice-versa. Desse modo, a humildade torna-se uma virtude fundamental do cristão; o caminho estreito que dá acesso ao Reino dos Céus. E essa também era uma virtude desconhecida dos filósofos gregos. E Cristo chega a dizer o seguinte: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la-á.” E isso, para o filósofo grego, seria simplesmente incompreensível. Em conseqüência, cai por terra também o ideal supremo do sábio helenístico que compreendera a vaidade do mundo e de todos os bens “exteriores” e do “corpo”,mas, no entanto, punha em si mesmo a certeza suprema, proclamando-se “autárquico” e absolutamente “autossuficiente”, capaz de alcançar sozinho o fim último. Paulo sela essa reviravolta no pensamento antigo. Depois de ter suplicado a Deus três vezes, para que dele afastasse uma grave aflição que o atribulava, teve a seguinte resposta: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta o seu poder.” Por isso Paulo conclui: “Por conseguinte, com todo o ânimo prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que pouse sobre mim a força de Cristo.”
Referências
História da filosofia: Antiguidade e Idade Média / Giovanni Reale, Dario Antiseri; – São Paulo: PAULUS, 1990 – (Coleção Filosofia).
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