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A cristologia de Boff deve ser inserida no contexto da discussão da procura por um Jesus histórico e o Seminário de Jesus, pois ele trabalha com a mesma crítica. A proposta de Boff se identifica com um meio termo entre a teologia de Bulmann e a cristologia montada de “baixo para cima”. Apesar de rejeitar como histórico muito das histórias dos evangelhos, ele ainda atribui significado à pessoa histórica de Jesus Cristo.

Ele concorda que podemos conhecer certas coisas sobre o homem histórico Jesus. O Cristo é um modelo de Libertação.  Por outro lado ele entende como Bultmann, que a linguagem empregada nos evangelhos é mitológica.

Essa linguagem deve ser interpretada em seu sentido existencial, para que possamos aprender o verdadeiro significado da condição de ser humano. O que quase não se encontra nas obras de Boff é o Jesus como o Filho de Deus Eterno, que assumiu uma natureza decaída humana para salvar a humanidade do pecado. O Cristo de Boff é parecido com um ser humano que se abre para Deus e assim se torna divino, para mostrar como todos podem conseguir o mesmo.

A Teologia de Boff contém a tendenciosa presença de pressupostos do naturalismo filosófico, apesar disso Boff não é ateu, mas a redução de Jesus a um homem que se divinizou é uma oposição ao testemunho dos apóstolos que pregavam o Deus eterno que se tornou humano. Boff nega o nascimento virginal, para ele, Jesus não falou que era o Filho de Deus (Mt 27.43), Jesus não fez profecias sobre a sua morte e ressurreição, e  a Confissão de Pedro: “Tu é o Cristo”, não aconteceu.  Todos esses eventos foram inventados e colocados nos evangelhos pelos evangelistas.

A Teologia da Libertação, de Boff , ecoa mais nos centros acadêmicos, mas perde proeminência na Teologia contemporânea. Fica claro que Boff não aceita a ortodoxia da tradição cristã.

Boff e a Carta da Terra.

Nos últimos tempos, Boff passou a admirar a New Age, segundo ele o imanentismo panteísta da New age e sua ética planetária, possuem o condão de conduzir o homem à cultura mundial de paz.  Homem esse, qualificado nas palavras de Boff de “parasita, devastador e merecedor da extinção para que sobreviva Gaia, a grande divindade animista cujo culto deve substituir o do Salvador.

A Carta da Terra foi um documento idealizado nos anos 90 por Mikhail Gorbachev, e Maurice Strong. Gorbachev declarou em 1997: “ O melhor mecanismo que usaremos será a substituição dos Dez Mandamentos pelos princípios contidos na presente Carta ou Constituição da Terra”.

A Carta da Terra visa o controle populacional dos países periféricos. Afinal porque permitir a proliferação dos assim chamados parasitas?

Na Carta da Terra, Deus não tem espaço. O homem está em igualdade com qualquer animal ou vegetal, incapaz de conhecer qualquer realidade que não seja material. Não é o centro da criação do Deus Todo Poderoso.

Palavras de Boff sobre a Carta da Terra na Assembléia Geral da ONU em 2009.

Aos auspícios de Evo Morales, Leonardo Boff afirmava:

“Desde da mais alta ancestralidade, as culturas e religiões sempre têm testemunhado a crença na Terra como Grande Mãe, Magna Mater, Inana e Pachamama.

Os povos originários de ontem e de hoje tinham e têm clara consciencia de que a Terra é geradora de todos os viventes. Somente um ser vivo pode produzir vida em suas mais diferentes formas. A Terra é, pois, nossa Mãe universal (…) Em nome da Terra, nossa Mãe, de seus filhos e filhas sofredores e dos demais membros da comunidade de vida, quero agradecer a esta Assembléia Geral por haver sabiamente aprovado esta resolução.

Neste contexto, me permito fazer uma breve apresentação do fundamento que sustenta a idéia da Terra como nossa Mãe.

Desde da mais alta ancestralidade, as culturas e religiões sempre têm testemunhado a crença na Terra como Grande Mãe, Magna Mater, Inana e Pachamama.

Os povos originários de ontem e de hoje tinham e têm clara consciencia de que a Terra é geradora de todos os viventes. Somente um ser vivo pode produzir vida em suas mais diferentes formas. A Terra é, pois, nossa Mãe universal.

Durante séculos e séculos prevaleceu esta visão até a emergência recente do espírito científico no século XVI. A partir de então, a Terra já não é mais considerada como Mãe, senão como uma realidade sem espírito, entregue ao ser humano para ser submetida, mesmo com violência. A mãe-natureza que devia ser respeitada se transformou em naturaza-selvagem que deve ser dominada. A Terra se viu convertida num baú cheio de recursos naturais, disponíveis para a acumulação e o consumo humano.

Neste novo paradigma não se coloca a questão dos limites de suportabilidade do sistema-Terra nem dos recursos naturais não renováveis. Pressupunha-se que os recursos seriam infinitos e que poderíamos ir crescendo ilimitadamente na direção do futuro. O que efetivamente é uma grande ilusão.

A preocupação principal era e é: como ganhar mais no tempo mais rápido possível e com um investimento menor? A realização histórica deste propósito fez surgir um arquipélago de riqueza rodeado por um mar de miséria.(…) Para terminar permito-me fazer uma sugestão: que se coloque na cúpula interna da Assembléia uma destas imagens belíssimas e plásticas da Terra vista a partir de fora da Terra. Suspensa no transfundo negro do universo, ela evoca em nós sentimentos de reverência e de mútua pertença. Ao contemplá-la, tomamos conciência de que ai está o nosso Lar Comum.

Pediria ainda que fosse aprovada uma recomendação de que no dia 22 de abril, dia Internacional da Mãe Terra, se fizesse um momento de silêncio em todos os lugares públicos, nas escolas, nas fábricas, nos escritorios, nos parlamentos para que nossos corações entrem em sintonia com o coração de nossa Mãe Terra.

Concluo. Tal como está, a Terra não pode continuar. É urgente que mudemos nossas mentes e nossos corações, nosso modo de produção e nosso padrão de consumo, caso quisermos ter um futuro de esperança. A solução para a Terra não cái do céu. Ela será o resultado de uma coalizão de forças em torno a uma consciência ecológica integral, uns valores éticos multiculturais, uns fins humanísticos e um novo sentido de ser. Só assim honraremos nossa Casa Comum, a Terra, nossa grande generosa Mãe.

Muito obrigado.

Leonardo Boff

Representante do Brasil e da Comissão da Carta da Terra.

Referências 

Teologia Sistemática. Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. Franklin e Alan Myatt. Vida Nova.

Poder Global e Religião Universal. Juan Cláudio Sanahuja. Ecclesiae


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