Durante o reinado do Imperador Décio (249 d.C) levantou-se mais uma perseguição contra os Cristãos. Então por mandato Imperial todos tinham que sacrificar aos deuses e queimar incenso diante da estátua do Imperador.
Quem fizesse tal ato, receberia um certificado como comprovante. Quem não portasse tal certificado seria tratado como um criminoso que desobedeceu uma ordem do Imperador. As novas gerações de cristãos que nunca tinham passado por uma perseguição foram pegas de surpresa. Muitos não queriam enfrentar um martírio.
Então, alguns obedeceram o decreto e foram sacrificar aos deuses pagãos. Outros permaneceram firmes, mas quando foram levados diante dos tribunais sucumbiram e também negaram a Jesus. Outros utilizaram de subterfúgios e compraram um certificado falso sem fazerem os sacrifícios. Mas alguns permaneceram firmes e receberam as mais cruéis torturas pelo nome de Cristo.
Foi nesse período que Orígenes sofreu as torturas que já relatamos em seu texto/vídeo. Foi nesse contexto que a Igreja teve que enfrentar o problema de o que fazer com os “traidores” ou “caídos”. Como já foi mencionado, havia diferentes graus de traidores. Uns correram logo e abdicaram da fé, outros através de torturas e outros compraram diplomas.
Os que se mantaram firmes, mesmo diante das torturas, foram chamados de “Confessores” e foram eles que primeiramente abdicaram para si a autoridade para julgar os traidores. Para muitos bispos, no entanto, só a hierarquia da Igreja tinha autoridade para regular uma restauração ou não de quem caiu.
Cipriano e Novaciano
Na Polêmica que surgiu em torno da questão, dois personagens se sobressaíram: Cipriano de Cartago e Novaciano de Roma.
Cipriano era bispo de Cartago, se converteu quando tinha aproximadamente 40 anos de idade. Era admirador das obras de Tertuliano, semelhantemente ao “mestre”, Cipriano também era hábil em retórica e por isso mesmo era um brilhante argumentador.
Na perseguição do Imperador Décio, Cipriano já bispo, fugiu para um lugar seguro com outros dirigentes da Igreja e dali continuou pastoreando os fiéis através de correspondências. No entanto, muitos viram nessa atitude do bispo, um ato de covardia.
Cipriano respondeu aos seus críticos que seu exílio tinha sido uma decisão sábia para a sua grei e por isso resolveu fugir, não por covardia. Alguns anos depois, Cipriano mostrou o seu valor e ofereceu sua vida como Mártir. Mas no momento, Cipriano teve sua autoridade contestada pelos Confessores que diziam ter mais autoridade do que ele.
Os Confessores queriam que os caídos fossem admitidos na Igreja imediatamente, perante o arrependimento. Vários bispos inimigos de Cipriano apoiaram os Confessores e então se produziu um cisma na Igreja de Cartago.
Cipriano convocou então um Sínodo, ou seja, uma Assembleia de Bispos da região que decidiram o seguinte:
Os que tinham comprado certificados e não sacrificaram aos ídolos poderiam ser admitidos novamente na Igreja perante o arrependimento. Os que tinham sacrificado e que se arrependeram, só seriam readmitidos na Igreja, perante o leito de morte. Os que tinham sacrificado e não se arrependeram, não seriam admitidos nunca mais na Igreja, nem perante o leito de morte.
Foi Cipriano, que nesse contexto cunhou a frase: “Fora da Igreja não há Salvação”, pois para Cipriano a Igreja era o Corpo de Cristo e Cristo o cabeça. Cipriano como um rígido seguidor do rígido Tertuliano, insistia que os traidores não fossem admitidos novamente à comunhão da Igreja, com extrema facilidade.
Novaciano
Muito mais rígido do que Cipriano foi Novaciano, que em Roma se opunha à maneira com que o bispo Cornélio admitia com facilidade à Igreja os que tinham caído. Produziu-se então um Cisma na Igreja de Roma também. Novaciano insistia que a Igreja devia ser pura, e as ações de Cornélio estavam maculando-a.
Foi por essas preocupações sobre o que fazer com os que caíram, como readmiti-los na Igreja ou não, que surgiu todo o sistema penitencial da Igreja católica e a Reforma Protestante foi em grande parte um protesto contra esse sistema.
Referência:
História Ilustrada do Cristianismo. Justo L Gonzalez
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