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Perpétua

Foi no Período de Sétimo Severo que se levantou a perseguição mais violenta contra os cristãos no Império Romano. Foi nessa época que Irineu sofreu o martírio e Leônidas o pai de Orígenes também. No entanto, o mais famoso dos martírios dessa época é o de Perpétua e Felicidade que ocorreu no ano 203.

É bem provável que Perpétua e seus amigos fossem montanistas, e que o autor que deixou o testemunho de seu martírio tenha sido Tertuliano. É a história de cinco pessoas que eram catecúmenos, ou seja, cinco pessoas que se preparavam para receber o batismo.

A principal heroína desse relato é Perpétua, uma mulher jovem da classe alta da cidade que estava com um filho recém-nascido. Felicidade e Revocato eram dois escravos que a acompanhavam, e os outros dois jovens eram Saturnino e Secúndulo.

Quando Perpétua ainda estava em prisão domiciliar , seu pai tentou convencê-la de todas as maneiras  para que abandonasse a sua fé e salva-se sua vida. Ela respondeu que, assim como cada coisa tem seu nome e é inútil tentar mudá-lo, ela tinha o nome de cristã e não podia mudá-lo.

Enfurecido, Víbio, o pai de Perpétua se atirou na direção dela, com se fosse arrancar

perpetua e felicidade

seus olhos. Mas, no final, ele recuou, levando consigo os argumentos antricristãos que Perpétua sabia serem obra do diabo.

Quando Perpétua e seus amigos foram finalmente lançados na prisão, seu pai lhe implorou que negasse a fé com a seguinte fala:

“Minha filha, tem compaixão de meu cabelo grisalho! Tem piedade de teu pai, se é que mereço ser chamado de pai por ti. Se com estas mãos te criei até a flor da idade, se te preferi a todos os teus irmãos, não me entregue ao escárnio dos homens. Tem consideração por teu filho que não conseguirá viver sem ti. Põe tua coragem de lado e não leves todos nós à destruição. Estas palavras falou com lágrimas ajoelhado aos pés de Perpétua ao qual chamou de senhora.

No julgamento de Perpétua, seu pai, causou um tumulto tão grande, que o governador ordenou que fosse açoitado com varas. Perpétua ficou ainda mais angustiada com isso, mas manteve firme sua fé. Perpétua só precisava dizer: “César é o Senhor”, então o promotor lhe perguntou: jura pelo gênio de César! Maldize a Cristo!

Mas para Perpétua e para os primeiros cristãos tudo era bem claro, ou você amaldiçoava a Cristo e adorava o espírito demoníaco que dava poderes ao imperador pagão, ou você se mantinha fiel ao seu Salvador. Perpétua lembrava das palavras de Paulo: “ninguém, falando pelo Espírito de Deus, pode dizer: Maldito seja Jesus! E ninguém pode dizer: Jesus é Senhor! a não ser pelo Espirito Santo” 1 (Co 12.3).

As próprias palavras de Jesus eram retumbantes: ” Todo aquele que me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante de meu Pai que está no Céu. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante de meu Pai que está no Céu.(Mt 10.32,33).

Por fazer parte do Movimento do Montanismo que também era conhecido como Nova Profecia, Perpétua provavelmente era uma profetisa com íntima comunhão com Deus. Ela mesmo relata sobre os antecedentes de Seu Martírio:montanismo

Então meu irmão me disse: “Querida irmã, tu és muito privilegiada; com certeza pode pedir uma visão para descobrir se hás de ser condenada ou libertada”. Prometi sinceramente que a pediria, pois sabia que podia falar com o Senhor, cujas grandes bênçãos eu havia experimentado. Então eu disse: “Contarei a ti amanhã”.

Perpétua recebe a visão:

Ela viu uma enorme escada de bronze que alcançava o céu. Nas laterais, havia punhais e ganchos afiados que lacerariam a carne de alguém que não subisse com cuidado. Protegendo a parte de baixo da escada, havia um dragão feroz. Saturo, marido de Perpétua, subiu primeiro. Na visão, ele chegou ao alto da escada e olhou para trás para Perpétua, gesticulando para ela. “Perpétua, estou esperando por ti”, ele disse. “Mas toma cuidado; não deixes o dragão te morder”. “Em nome de Jesus Cristo, ele não me fará mal”, ela respondeu. Com coragem, ela pisou na cabeça do  dragão (uma alusão Gn 3.15) e subiu a escada. No alto da escada, Perpétua se viu em um exuberante jardim, onde um pastor ordenhava ovelhas em meio a milhares de pessoas vestidas de branco. O pastor disse: “Estou contente por teres vindo, minha filha”. Deu a ela um gole de leite enquanto todos clamavam: “Amém!”. Em seguida, ela acordou com o sabor de doçura ainda na boca. Convencida que certamente seria martirizada, Perpétua decidiu “não ter mais esperança alguma nesta vida”.

Felicidade

Felicidade estava grávida, deu a luz a uma menina na prisão ao oitavo mês. Seus carcereiros quando a viram com dores de parto gemendo, perguntaram como ela teria coragem necessária de enfrentar as feras. A resposta dela foi: “Agora meus sofrimentos são só meus. Mas quando tiver que enfrentar as bestas haverá outro que viverá em mim, e sofrerá por mim, visto que eu estarei sofrendo por ele”.

Felicidade deu a luz a uma menina, que uma irmã cristã a criou como a própria filha. E assim Felicidade pôde receber a coroa do martírio junto com seus companheiros.

À medida que os mártires entravam na Arena, Perpétua começou a cantar salmos. A multidão enfurecida exigiu o açoite dos mártires, mas os cristãos ensanguentados se regozijaram que tinham participado dos sofrimentos do Senhor.

Por fim, soltaram as  feras, Saturnino e Revocato morreram primeiro, mas nenhuma fera quis ferir Secúndulo. O javali que soltaram, em vez de atacá-lo, matou um dos carrascos. Quando o amarraram para que o Urso o atacasse, o urso não quis sair da sua jaula. Por fim, o próprio Secúndulo falou ao seu carcereiro que o Leopardo o mataria e assim aconteceu.vaca que atacou perpetua

Perpétua foi atacada e lançada ao alto por uma vaca furiosa, quando caiu ao chão, arrumou seu vestido e pediu que lhe permitissem amarrar seu cabelo, porque cabelo solto é sinal de luto e aquele era um momento feliz para ela. Perpétua então foi até sua amiga Felicidade que também foi ferida pela Vaca, levantou sua companheira e perguntou em voz alta: Onde está a famosa vaca?

Por fim, resolveram matar todos que estavam ali à espada. Quando chegou a vez de Perpetua, seu carrasco tremia e não acertava feri-la de morte, ela então tomou-lhe a mão e a dirigiu para que a ferisse na garganta. O comentário do Martírio é que o “Demônio a temia tanto que não se atrevia a matá-la sem que ela a deixa-se”.

A palavra Mártir significa “testemunha” e foi exatamente isso que Perpétua e seus companheiros foram naquele dia. Eles deram testemunho de sua fé em Cristo. Uma fé que não pode ser comprometida por laços familiares ou pela ameaça de sofrimento imenso. Tertuliano disse: “O sangue dos cristãos é a semente da Igreja, quanto mais somos destruídos pelos pagãos, mais crescemos em número.

Depois desse período as perseguições pararam por quase meio século, até levantar outra no Governo do Imperador Décio.

Referências

Historia Ilustrada do Cristianismo. Justo L Gonzales

Conhecendo os Pais da Igreja. Bryan M. Litfin.

 

 

 

 

 


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