O Sufismo é uma escola de sabedoria que surgiu no interior do Islã, provavelmente no século VIII, como uma reação ao formalismo e ao legalismo da religião oficial.
Os sufis, como são chamados os adeptos do Sufismo, se dedicam à busca da verdade espiritual, que consideram o objetivo último de todo ser consciente.
Para isso, eles se baseiam nos ensinamentos do profeta Maomé, mas também em outras fontes de inspiração, como os poetas, os filósofos, os santos e os mestres espirituais.
A palavra Sufismo deriva do termo árabe tasawwuf, que significa “purificação” ou “refinamento”.
O termo pode ter origem na palavra suf, que significa “lã”, em referência às vestes simples e ásperas usadas pelos primeiros ascetas muçulmanos, que renunciavam aos prazeres e às riquezas do mundo.
Outra possível origem é a palavra safa, que significa “pureza”, em alusão ao estado de pureza do coração, que é o requisito para se aproximar de Deus.
O Sufismo é uma forma de misticismo, ou seja, uma busca pela união com o divino, através de experiências diretas e pessoais, que transcendem a razão e os sentidos.
O Sufismo é também uma forma de esoterismo, ou seja, um conhecimento oculto e secreto, que só pode ser revelado aos iniciados, que seguem um caminho de disciplina e devoção.
O Sufismo é uma dimensão do Islã, que não se opõe nem se separa da religião externa, mas que a complementa e a aprofunda.
Os sufis seguem os cinco pilares do Islã, que são: a profissão de fé (shahada), a oração ritual (salat), a esmola obrigatória (zakat), o jejum do mês de Ramadã (sawm) e a peregrinação a Meca (hajj).
No entanto, eles também praticam outras formas de adoração, como o canto (sama), a dança (raqs), a meditação (muraqaba) e a lembrança de Deus (dhikr).
O Sufismo não é uma seita ou uma doutrina uniforme, mas uma corrente diversa e plural, que abrange várias escolas, ordens, movimentos e tendências, que se diferenciam em alguns aspectos teóricos, práticos e organizacionais, mas que compartilham a mesma essência e o mesmo propósito.
O Sufismo pode ser encontrado tanto no Islã sunita quanto no xiita, bem como em outras ramificações do Islã, como o ismailismo e o drusismo.
Como surgiu o Sufismo?
As origens do Sufismo são obscuras e controversas, pois não há registros históricos claros e confiáveis sobre os seus primórdios.
Alguns estudiosos afirmam que o Sufismo é uma expressão original e autêntica do Islã, que remonta aos ensinamentos e às práticas do próprio profeta Maomé e dos seus companheiros mais próximos, que teriam vivenciado estados de êxtase e de comunhão com Deus.
Outros estudiosos defendem que o Sufismo é uma influência externa e posterior ao Islã, que teria incorporado elementos de outras tradições místicas e esotéricas, como o cristianismo, o judaísmo, o zoroastrismo, o hinduísmo, o budismo, entre outras.
De qualquer forma, o que se sabe é que o Sufismo começou a se desenvolver e a se difundir na região do Oriente Médio, entre os séculos VIII e IX, como uma reação ao formalismo e ao legalismo da religião oficial, que se preocupava mais com as regras e os rituais do que com a espiritualidade e a ética.
Os primeiros sufis eram ascetas e místicos, que se retiravam do mundo para se dedicar à oração, ao jejum, à caridade e à contemplação.
Eles buscavam purificar o seu coração das paixões, dos apegos e das ilusões, e se aproximar de Deus, seguindo o exemplo do profeta Maomé, que se isolava em uma caverna para receber as revelações divinas.
Entre os primeiros sufis, destacam-se figuras como Hasan al-Basri (642-728), que foi um dos primeiros a usar o termo sufismo;
Rabia al-Adawiyya (714-801), que foi uma das primeiras mulheres sufis e que enfatizou o amor a Deus; Harith al-Muhasibi (781-857), que foi um dos primeiros a sistematizar a psicologia e a ética sufi;
Bayazid al-Bistami (804-874), que foi um dos primeiros a expressar a união mística com Deus; Junayd al-Baghdadi (830-910), que foi um dos primeiros a harmonizar a ortodoxia e o misticismo; e Mansur al-Hallaj (858-922), que foi um dos primeiros a ser executado por heresia, por ter proclamado “Eu sou a Verdade”, ou seja, “Eu sou Deus”.
A partir do século X, o Sufismo passou por uma transformação, que envolveu a organização de ordens ou confrarias (tariqas), que reuniam mestres e discípulos em torno de uma linhagem espiritual, de uma regra de conduta e de um método de iniciação.
As ordens sufis se espalharam por todo o mundo islâmico, e também por outras regiões, como a África, a Ásia, a Europa e a América, adaptando-se às diferentes culturas e contextos.
As ordens sufis também desempenharam um papel social e político, atuando como agentes de educação, de assistência, de resistência e de reforma.
Entre as ordens sufis mais conhecidas, estão: a Qadiriyya, fundada por Abd al-Qadir al-Jilani (1077-1166), que enfatiza a devoção e a caridade; a Suhrawardiyya, fundada por Abu al-Najib al-Suhrawardi (1097-1168), que enfatiza a disciplina e a obediência;
a Chishtiyya, fundada por Moinuddin Chishti (1141-1236), que enfatiza a música e a poesia; a Shadhiliyya, fundada por Abu al-Hasan al-Shadhili (1196-1258), que enfatiza a sabedoria e a cortesia;
a Mawlawiyya, fundada por Jalal al-Din Rumi (1207-1273), que enfatiza o amor e a dança; a Naqshbandiyya, fundada por Baha al-Din Naqshband (1318-1389), que enfatiza a meditação e o silêncio;
a Nimatullahiyya, fundada por Shah Nimatullah Wali (1330-1431), que enfatiza a arte e a beleza; e a Bektashiyya, fundada por Haji Bektash Veli (1209-1271), que enfatiza a tolerância e a liberdade.
Quais são os conceitos e as práticas do Sufismo?
O Sufismo se baseia em alguns conceitos e práticas fundamentais, que orientam a sua visão de mundo e a sua forma de viver. Alguns desses conceitos e práticas são:
Tawhid: é o conceito que significa “unidade” ou “unicidade”, e que se refere à crença na existência de um único Deus, que é a origem, a essência e o destino de tudo o que existe.
O tawhid implica em reconhecer e em adorar somente a Deus, sem associar nada a Ele, nem atribuir-Lhe qualquer forma, nome ou atributo.
O tawhid também implica em perceber e em aceitar a unidade e a diversidade da criação, que é um reflexo da vontade e da misericórdia de Deus. O tawhid é o fundamento da fé e da espiritualidade islâmica, e também do Sufismo, que busca a realização da unidade com Deus, através do amor, da devoção e da purificação.
Maqam e Hal: são os conceitos que representam os estágios e os estados da jornada espiritual do sufi, que consiste em um caminho ascendente de aproximação e de união com Deus.
O maqam é o estágio permanente e estável, que é alcançado pelo esforço e pela disciplina do sufi, que segue as orientações do seu mestre e da sua ordem.
O hal é o estado temporário e instável, que é concedido pela graça e pela misericórdia de Deus, que surpreende e arrebata o sufi, que experimenta visões, revelações e êxtases.
Os maqams e os hals são diversos e variados, dependendo da escola, da seita ou da preferência do sufi, mas geralmente seguem uma ordem progressiva, que vai desde o arrependimento, a renúncia, a paciência, a gratidão, a confiança, o amor, a intimidade, a aniquilação, a subsistência, até a perfeição.
Dhikr: é o conceito que significa “lembrança” ou “invocação”, e que se refere à prática de repetir o nome de Deus, ou algum de seus atributos, ou alguma frase sagrada, como forma de adoração, de meditação e de purificação.
O dhikr pode ser realizado de forma individual ou coletiva, de forma silenciosa ou audível, de forma oral ou mental, de forma estática ou dinâmica, dependendo da escola, da seita ou da preferência do sufi.
O objetivo do dhikr é manter a consciência e a presença de Deus em todos os momentos, e assim se aproximar e se unir a Ele.
Sama: é o conceito que significa “audição” ou “escuta”, e que se refere à prática de ouvir e de cantar músicas, poemas e hinos religiosos, como forma de adoração, de meditação e de purificação.
O sama pode ser realizado de forma individual ou coletiva, de forma silenciosa ou audível, de forma estática ou dinâmica, dependendo da escola, da seita ou da preferência do sufi.
O objetivo do sama é elevar a alma e o espírito, e assim se aproximar e se unir a Deus.
Fana e Baqa: são os conceitos que significam “aniquilação” e “subsistência”, e que se referem aos estados supremos da jornada espiritual do sufi, que consistem na dissolução do ego e na permanência em Deus.
O fana é o estado em que o sufi se desfaz de toda a sua existência individual, de todas as suas qualidades, de todas as suas distinções, de todas as suas limitações, e se funde com a essência de Deus, que é a única realidade.
O baqa é o estado em que o sufi se mantém em Deus, que é a fonte de toda a existência, de todas as qualidades, de todas as distinções, de todas as possibilidades, e se manifesta com a vontade de Deus, que é a única ação.
O fana e o baqa são os estados de perfeição e de felicidade, que correspondem à união e à visão de Deus.
Conclusão
O Sufismo é uma vertente mística e esotérica do Islã, que busca uma experiência direta e pessoal de Deus, através de práticas como o canto, a dança, a meditação e a ética.
O Sufismo se baseia nos ensinamentos do profeta Maomé, mas também em outras fontes de inspiração, como os poetas, os filósofos, os santos e os mestres espirituais.
O Sufismo se expressa em diversos conceitos e práticas, como o tawhid, o maqam, o hal, o dhikr, o sama, o fana e o baqa.
O Sufismo é uma forma de ver e de viver o mundo, que propõe uma atitude de entrega, de devoção, de amor, de compaixão, de humildade, de paciência, de tolerância e de alegria.
O Sufismo é uma arte de viver, que ensina a arte de morrer, e que conduz à arte de renascer.
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