O ateísmo, seja na forma de niilismo ou na chamada visão do propósito imanente, prega que a prática de atos morais é válida porque esses atos podem dar um propósito objetivo para a vida, ou seja, é racional fazer o que é certo, como pagar uma dívida por exemplo.

No entanto, o ateísmo se complica em responder sobre os atos super-rogatórios, que seriam aqueles atos de heroísmo não moralmente obrigatórios, mas moralmente louváveis se praticados, como por exemplo, a atitude de alguém tomar a frente de outra e levar uma bala, ou se afogar tentando salvar outras pessoas.

Não seria racional realizar tais atos de heroísmo,  pois se tais atos me fazem perder a vida, fica difícil entender a proposta atéia de pagar tal preço por um curto período de significado objetivo.

Immanuel Kant, o famosíssimo filósofo alemão disse que só a existência de uma vida após a morte, e os atributos de Deus como onisciência e onipotência fornecem uma justificação racional para os atos que parecem opor a felicidade ao dever.

O ateísmo tem dificuldades para justificar a racionalidade de atos em que o interesse próprio esteja em conflito com a realização do dever.

O Cristianismo afirma que tais casos são deveres morais, e eles podem ser executados, em parte, porque Deus nos recompensará por eles.  Deus criou a natureza humana de tal modo que fazer o certo trará felicidade, a prática de atos super-rogatórios, harmoniza a felicidade com o dever.

O Dilema de Eutífron

Os céticos dizem que a existência Deus não resolve o problema dos valores, mas acaba complicando o problema. O Dilema de Eutífron é proposto por Platão e faz a seguinte indagação: “Determinada coisa é moral porque Deus a ordenou, ou Deus a ordenou porque é moral? – No primeiro caso, os mandamentos de Deus seriam totalmente arbitários, sua autoridade se reduz a seu poder, a moralidade procederia somente de um decreto de sua vontade.

No segundo caso, os mandamentos de Deus estariam baseados em alguma razão fora de Deus, e as pessoas devem ser moral por causa dessa razão e não porque Deus ordenou.

Podemos dizer que o Dilema de Eutífron é falso. A moralidade é fundamentada na natureza de Deus. As coisas são certas porque um Deus bondoso e amoroso as ordena. As leis divinas não são arbitrárias ou baseadas em algo fora dele. Deus é amor, e a Trindade justifica esse amor. As leis morais são embasadas nos próprios atributos morais de Deus.

Qual o significado da vida?

Os céticos argumentam que a existência de Deus e uma vida após a morte não oferece significado para a vida, que nem mesmo Deus pode conferir significado a vida, a não ser de uma maneira arbitrária.

Podemos dizer que esse argumento é uma forma disfarçada do Dilema de Eutífron, ele presume que ou Deus dita arbitrariamente significado à vida, ou então, independente de Deus, a vida já possui significado.

O cristianismo defende que vida humana tem valor e significado porque as pessoas refletem a mesma natureza de Deus, e que o objetivo da vida e da história humana são fundamentados na natureza divina.

É errado esperar uma recompensa divina?

Muitos ateus argumentam que os cristão tentam agir de acordo com uma suposta moral, porque isso traria uma recompensa no céu, na verdade um cristão agindo assim estaria apenas sendo egoísta.

Dentro da filosofia e do Direito, Kant foi um dos primeiros a reconhecer que o homem possui um fim em si mesmo, ou seja, ao homem não se pode atribuir valor, por isso o pensamento de Kant nessa área é considerado como um dos pilares para o principio da Dignidade da pessoa humana.

Muito antes, o teísmo cristão já defendia o mesmo princípio, de que a criatura humana possui um fim em si mesmo. Portanto, o ser humano não promove o seu próprio bem de um modo egoísta, mas sim porque reflete a imagem de Deus que é amor em três pessoas eternas.

As recompensas de Deus são o reconhecimento da dignidade humana, é justificável buscá-las, porque agindo assim a criatura recebe seu valor e recompensa.  O desejo de ser recompensado e reconhecido por um Ser que é santo, amável e benévolo não configura um ato de egoísmo, trata-se de uma expressão apropriada de uma necessidade que o próprio Deus me fez possuir, pois a natureza de Deus reflete a natureza humana.

C.S. Lewis também escreveu sobre esse assunto: O que Deus pensa de nós não é apenas mais importante, mas infinitamente mais importante! Aliás, o que pensamos dele não tem a menor importância, a não ser quando o que dele pensamos relaciona-se com o que ele pensa de nós. Está escrito que seremos colocados perante ele, que seremos apresentados, examinados. A promessa de glória é a promessa quase incrível, e possível apenas pela obra de Cristo, de que alguns, alguns que verdadeiramente o quiserem, resistirão a esse exame, encontrarão aprovação, agradarão a Deus. Agradar a Deus… ser um verdadeiro integrante da felicidade divina… receber o amor de Deus, não apenas a sua piedade, mas ser o motivo do prazer, como um artista deleita-se em sua obra ou o pai em seu filho — parece impossível, é um peso ou carga de glória que nossa imaginação mal pode suportar. Mas é assim… E, com certeza, desse ponto de vista, a promessa de glória, no sentido já descrito, torna-se altamente relevante para o nosso profundo desejo. Porque glória significa ter bom nome diante de Deus, ser aceito por ele, ter sua resposta, reconhecimento, ser introduzido no âmago das coisas. A porta em que batemos toda a vida finalmente se abrirá. Talvez pareça um tanto grosseiro definir glória como o fato de ser “notado” por Deus. Mas a linguagem do Novo Testamento é quase essa. Paulo promete àqueles que amam a Deus não, como seria de esperar, que conhecerão a Deus, mas que serão conhecidos por ele (1 Co 8.3). É uma promessa estranha! Deus não conhece todas as coisas em todos os tempos? Mas ecoa de forma medonha em outra passagem do Novo Testamento. Nela somos alertados de que qualquer um de nós pode ter de comparecer perante Deus para ouvir palavras aterradoras: “Não vos conheço. Apartai-vos de mim!”.

Excertos retirados do Livro Peso de Glória de C.S Lewis. Mais informações sobre o tema aqui: http://exateus.com/2015/07/21/como-sera-no-ceu/

Termino com a famosa frase de Kant: “Duas coisas me enchem o espírito de admiração e de reverência sempre nova e crescente, quanto mais freqüente e longamente o pensamento nelas se detém: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim”


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E Felipe Pondé voltou a ser ateu! | · 12/11/2016 às 18:03

[…] A moralidade, ateísmo, atos super-rogatórios,Dilema de Eutífron, recompensa divina e outras … […]

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