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Por José Domingos Martins da Trindade 

O livro intitulado “Meditações Metafísicas” de Descartes inicia com uma dúvida radical em relação à realidade. Esta dúvida faz parte da tentativa de obter um sólido fundamento de certeza, através da destruição de tudo que é posto como válido. Descartes cria até mesmo a possibilidade de um “deus maligno”, antagônico ao Deus sumamente bom, que é capaz de iludir o ser humano, mesmo naquilo que é julgado ser conhecido metodoclaramente. Partindo da idéia de um Deus enganador, Descartes chega à sua célebre frase: “penso logo existo”, porque mesmo podendo ser enganado por esse Deus, não há dúvida da sua própria existência como ser pensante, pois esse deus não conseguirá nunca a inexistência de alguém enquanto esse alguém pensar que é alguma coisa. Na dúvida, o Eu toma ciência de si mesmo. Vejamos as palavras de Descartes na 1ª Meditação: “Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que eles se servem para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa crença de ter todas essa. Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e se, por esse meio não está em meu poder ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está em meu alcance suspender meu juízo. Eis por que cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito a todos os ardis desse grande enganador que, por poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo” (§ 12 da 1ª Meditação) Independente da possibilidade de um deus enganador, ou verdadeiro, ou mesmo da inexistência de um Deus, a certeza do Ser que pensa, permanece intacta. Mas apesar de ter encontrado no ser pensante um sólido fundamento de certeza perante a dúvida, Descartes não termina aqui suas meditações, pois o pensamento humano acaba apontando para um Ser exterior a si. Vejamos o seguinte questionamento descrito em Lagatta (2010, p. 5): Tendo chegado a este ponto, poderíamos perguntar-nos a razão pela qual Descartes não termina aqui as suas Meditações, uma vez que encontrou no ente pensante, que permanece sólido perante a dúvida, que conserva a liberdade de excluir qualquer ente, mesmo o próprio Deus, que pode fundar e saber tudo acerca do mundo, em suma, uma vez que encontrou o fundamentum inconcussum? Lagatta dirá que o próprio Descartes respondeu negativamente a este questionamento, pois demonstrará em sua obra que o ser pensante deve pressupor a existência de Deus. No entanto, se as idéias que representam objetos e por isso são diferentes uma das outras viessem em seus fundamentos do próprio Eu pensante, elas não acrescentariam em nada em relação a existência de Deus. Descartes intui, então, a existência de uma idéia que não pode encontrar a sua causa no próprio ser humano: “Deus eterno, infinito, onipotente e criador de todas as coisas que estão fora dele próprio”. Meditando, Descartes afirma: Demais, encontra-se em mim certa faculdade passiva de sentir, isto é, de receber e conhecer as idéias das coisas sensíveis, isto é, de receber e conhecer as idéias das coisas sensíveis; mas ela seria inútil, e dela não me poderia servir absolutamente, se não houvesse em mim, ou em outrem, uma faculdade ativa, capaz de formar e produzir idéias. Ora, essa faculdade ativa não existir em mim enquanto sou apenas uma coisa que pensa, visto que ela não pressupõe meu pensamento, e, também, que essas idéias me são freqüentemente representadas sem que eu em nada contribua para tanto mesmo, amiúde, mau grado meu…” (§ 19 da Meditação Sexta) Descartes usa o principio da causalidade para dizer que a idéia de perfeição de Deus só pode ser produzida nele, pelo próprio Deus, pois uma idéia só poderia produzir outra, tendo maior perfeição do que a idéia causada. Seguindo com Lagatta (2010 p. 6) “Uma idéia só poderia causar outra tendo pelo menos maior realidade (perfeição) como a que foi causada”. Descartes, descobre, assim que a idéia de Deus não pode ser produzida em alguém, senão pelo próprio Deus.


1 comentário

A Teoria de Lênin | exateus · 05/07/2015 às 23:46

[…] Tudo que foi abordado nesse artigo parece muito com o Argumento da Origem da ideia de Deus que Descartes usou em  suas meditações, quem quiser conferir é só da uma olhada: http://exateus.com/2015/04/03/as-meditacoes-metafisicas-e-afirmacao-da-ideia-de-deus […]

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