Para C. S. Lewis, as Leis da Natureza não possuem realidade própria como a Lei Natural possui, para o Escritor, as Leis da Natureza mostram um comportamento da mesma, já a Lei Natural transcende os fatos do comportamento humano, é o que escreve na página 15 do Cristianismo Puro e Simples:
Quando você diz que a natureza é governada por certas leis, quer dizer apenas que a natureza, de fato, se comporta de certa forma. As chamadas “leis” talvez não tenham realidade própria, talvez não estejam além e acima dos fatos que podemos observar. No caso do homem, porém, percebemos que as coisas não são bem assim. A Lei da Natureza Humana, ou Lei do Certo e do Errado, é algo que transcende os fatos do comportamento humano. Neste caso, além dos fatos em si, existe outra coisa – uma verdadeira lei que não inventamos e à qual sabemos que devemos obedecer (LEWIS, 2005, p. 15).
Percebemos a visão indutiva de Ciência de Lewis quando ele faz uma comparação entre Ciência e Religião e como já exposto, o escritor não tem as duas como rivais ou correntes antagônicas, para ele os dois modos de enxergar o mundo coexistem desde muito cedo no pensamento humano, seguindo com Lewis (2005, p 15-16):
(…) Desde que o homem se tornou capaz de pensar, ele se pergunta no que consiste o universo e como ele veio a existir. Grosso modo, dois pontos de vista foram sustentados. O primeiro deles é o que chamamos de materialista. Quem o adota afirma que a matéria e o espaço simplesmente existem e sempre existiram, ninguém sabe por quê. A matéria, que se comporta de formas fixas, veio, por algum acidente, a produzir criaturas como nós, criaturas capazes de pensar. Numa chance em mil, um corpo se chocou contra o sol e gerou os planetas. Por outra chance infinitesimal, as substâncias químicas necessárias à vida e a temperatura correta se fizeram presentes num desses planetas, e, assim, uma parte da matéria desse planeta ganhou vida. Depois, por uma longuíssima série de coincidências, as criaturas viventes se desenvolveram até se tornarem seres como nós. O outro ponto de vista é o religioso. Segundo ele, o que existe por trás do universo se assemelha mais a uma mente que a qualquer outra coisa conhecida. Ou seja, é algo consciente e dotado de objetivos e preferências. De acordo com essa visão, esse ser criou o universo. Alguns dos seus desígnios são ocultos, enquanto outros são bastante claros: produzir criaturas semelhantes a si mesmo — quero dizer, semelhantes na medida em possuem mentes. Por favor, não pensem que um destes pontos de vista era sustentado há muito tempo e aos poucos foi cedendo lugar ao outro. Onde quer que tenha havido homens pensantes, os dois pontos de vista sempre apareceram de uma forma ou de outra.
Método Indutivo
Mais explicitamente sobre o método indutivo encontramos ainda na página 16 quando o escritor tenta mostrar uma certa superioridade do pensamento religioso:
(…) Notem também que, para saber qual deles é o correto, não podemos apelar à ciência no sentido comum dessa palavra. A ciência funciona a partir da experiência e observa como as coisas se comportam. Todo enunciado científico, por mais complicado que pareça à primeira vista, na verdade significa algo como “apontei o telescópio para tal parte do céu às 2h20min do dia 15 de janeiro e vi tal e tal fenómeno”, ou “coloquei um pouco deste material num recipiente, aqueci-o a uma temperatura X e tal coisa aconteceu”. Não pensem que eu esteja desmerecendo a ciência; estou apenas mostrando para que ela serve. Quanto mais sério for o homem de ciência, mais (no meu entender) ele concordará comigo quanto ao papel dela – papel, aliás, extremamente útil e necessário. Agora, perguntas como “Por que algo veio a existir?” e “Será que existe algo – algo de outra espécie — por trás das coisas que a ciência observa?” não são perguntas científicas. Se existe “algo por trás”, ou ele há de manter-se totalmente desconhecido para o homem ou far-se-á revelar por outros meios (LEWIS, 2005, p. 16)
Ciência e Lei Natural
Lewis continuará mostrando a superioridade ou a veracidade da Lei Natural em detrimento do não tão certeiro conhecimento que a ciência pode nos dar, ao afirmar que o conhecimento que temos de nós mesmos é maior do que qualquer observação científica de qualquer objeto exterior, pois mesmo que a ciência se torne completa algum dia, ela ainda não conseguiria responder questões metafísicas e existenciais do tipo: “Porque o Universo existe”? Mas diante disto, ainda temos uma esperança da verdade, é o que escreve também na página 16:
Deveríamos perder as esperanças, não fosse por um detalhe. No universo inteiro, existe uma coisa, e somente uma, que nós conhecemos melhor do que conheceríamos se contássemos somente com a observação externa. Essa coisa é o Ser Humano. Nós não nos limitamos a observar o ser humano, nós somos seres humanos. Nesse caso, podemos dizer que as informações que possuímos vêm “de dentro”. Estamos a par do assunto. Por causa disto, sabemos que os seres humanos estão sujeitos a uma lei moral que não foi criada por eles, que não conseguem tirar do seu horizonte mesmo quando tentam e à qual sabem que devem obedecer. Alguém que estudasse o homem “de fora”, da maneira como estudamos a eletricidade ou os repolhos, sem conhecer a nossa língua e, portanto, impossibilitado de obter conhecimento do nosso interior, não teria a mais vaga ideia da existência desta lei moral a partir da observação de nossos atos. Como poderia ter? Suas observações se resumiriam ao que fazemos, ao passo que essa lei diz respeito ao que deveríamos fazer (LEWIS, 2005, p. 16)
Nota
*Texto adaptado extraído da Monografia apresentada à Universidade Federal do Maranhão – Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia de Imperatriz –, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Área de concentração: Criminologia; Direito Penal.
Orientador: Profº.: Gabriel Araújo Leite
Autor: José Domingos Martins da Trindade
Título: CRIMINOLOGIA E APOLOGÉTICA: C.S. LEWIS COMO SÍNTESE ENTRE A ESCOLA CLÁSSICA E A ESCOLA POSITIVA NO CRISTIANISMO PURO E SIMPLES.
Referência
LEWIS, C.S. Cristianismo Puro e Simples. Tradução: Álvaro Oppermann e Marcelo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
1 comentário
C. S. Lewis a Ciência e o Método Indutivo — Exateus | · 19/01/2020 às 16:20
[…] via C. S. Lewis a Ciência e o Método Indutivo — Exateus […]