Um leitor do blog pediu-me para escrever sobre Eternidade, como seria a vida no céu ou paraíso. Devo confessar que achei que a tarefa não seria muito difícil, mas quando fui pesquisar sobre o assunto percebi que realmente a Bíblia fala muito pouco sobre isso.Não adentrarei em questões teológicas como destino dos ímpios, sono da lama, milênio e outras, Quero começar no entanto, com uma anedota que achei muito interessante sobre o assunto:

Um assaltante de bancos depois de ser alvejado pela polícia, acorda caminhando sobre nuvens à entrada de uma cidade celestial. Um piedoso homem vestido de branco lhe concede tudo o que o assaltante quer, mas ele logo se enjoa do ouro que é de graça, das garotas que gostam de apanhar dele e etc…

Então, ele procura o homem de branco novamente, e disse que deve haver algum erro, e pede para ser enviado de volta a Terra. O homem disse que isso não seria possível pois aquele assaltante estava morto.

– Que lugar é esse então?

– É o lugar onde você consegue tudo o que quer.

– Mas eu achava que gostaria do Céu!

– Céu? Aqui não é o Céu! O Céu é outro lugar!

A moral de história é que um mundo sem sofrimento se parece mais com o Inferno do que com o paraíso!

Pesquisei em livros de Teologia Sistmática, em livros de apologética e a melhor fonte que achei pra falar sobre o assunto foi o “bom” C.S. Lewis!

É famosa a sua frase que diz: “O céu não é aqui, mas começamos a vivê-lo aqui, aqui seria como uma ante-sala, logo sairemos dela e experimentaremos de fato o que realmente nos espera.”

Deixando C.S Lewis falar:

A posição do cristão em relação ao céu é muito semelhante. Os que alcançaram a vida eterna e estão na presença de Deus sabem, sem dúvida, que não foram subornados, mas que se deu a consumação da sua aprendizagem terrena; nós, no entanto, que ainda não o atingimos, não podemos conhecê-lo da mesma forma, nem sequer começar a conhecê-lo, a não ser que continuemos na obediência e encontremos a primeira recompensa de nossa obediência no próprio desejo crescente de atingir a recompensa mais alta. E, à medida que o nosso desejo se intensifica, vai desaparecendo o receio de que ele seja puramente mercenário, até reconhecermos que isso é absurdo.

O céu está, por definição, inteiramente fora de nossa experiência, mas toda descrição inteligível precisa utilizar elementos de nossa experiência. A descrição que as Escrituras dão-nos do céu é, por conseguinte, tão simbólica como a que o nosso desejo pode criar por si só: o céu não é de fato coberto de jóias, da mesma forma como não é de fato a beleza da natureza ou uma boa peça musical. A diferença é que as imagens bíblicas possuem autoridade. Elas vêm nos de escritores que viveram mais perto de Deus do que nós e resistiram à prova da experiência cristã através dos séculos

As promessas das Escrituras podem, muito por alto, reduzir-se a cinco: em primeiro lugar, promete-se que estaremos com Cristo; em seguida, que seremos semelhantes a Ele; depois — e aqui é extraordinária a riqueza de imagens — que teremos “glória”; em quarto lugar, que seremos alimentados, festejados ou obsequiados; e, finalmente, que teremos alguma posição de destaque no universo — governaremos cidades, julgaremos anjos, seremos colunas no templo de Deus.

Quando comecei a examinar esse assunto, fiquei chocado ao descobrir que cristãos tão diferentes como Milton, Johnson e Tomás de Aquino davam abertamente à glória celestial o sentido de fama, celebridade ou bom nome. Mas não fama conferida pelas criaturas — era fama perante Deus, aprovação ou (eu diria) “reconhecimento” da parte de Deus. E, depois de meditar sobre o problema, cheguei à conclusão de que se tratava de um ponto de vista bíblico; nada pode eliminar da parábola o divino louvor: “Muito bem, servo bom e fiel”. E assim tombou, qual castelo de cartas, uma boa parte das teorias que eu construíra durante toda a vida. Lembrei, de repente, que ninguém pode entrar no céu senão como menino, e nada há de mais evidente

Posso imaginar alguém dizendo que não gosta da minha concepção do céu, que seria um lugar onde nos dão tapinhas nas costas. Mas por trás dessa rejeição existe uma compreensão falsa, orgulhosa. Esse Rosto, que é o deleite ou o terror do universo, voltar-se-á um dia para cada um de nós com uma das duas expressões, conferindo glória indizível ou infligindo vergonha que coisa alguma poderá curar ou ocultar. Há dias, li num periódico que o fundamental é o que pensamos de Deus. Por Deus, isso está errado! O que Deus pensa de nós não é apenas mais importante, mas infinitamente mais importante! Aliás, o que pensamos dele não tem a menor importância, a não ser quando o que dele pensamos relaciona-se com o que ele pensa de nós. Está escrito que seremos colocados perante ele, que seremos apresentados, examinados. A promessa de glória é a promessa quase incrível, e possível apenas pela obra de Cristo, de que alguns, alguns que verdadeiramente o quiserem, resistirão a esse exame, encontrarão aprovação, agradarão a Deus. Agradar a Deus… ser um verdadeiro integrante da felicidade divina… receber o amor de Deus, não apenas a sua piedade, mas ser o motivo do prazer, como um artista deleita-se em sua obra ou o pai em seu filho — parece impossível, é um peso ou carga de glória que nossa imaginação mal pode suportar. Mas é assim. Note o que está acontecendo. Se eu rejeitasse a imagem autorizada e escriturística da glória e me fixasse obstinadamente naquele desejo vago que, de início, constituía a única indicação para o céu, não veria nenhuma relação entre aquele desejo e a promessa cristã. Mas agora, depois de ter percorrido o que me parecia inexplicável e repulsivo nos livros sagrados, descubro, olhando para trás, com grande surpresa, que a relação é perfeitamente clara. A glória, tal como o cristianismo ensina-me a aguardar, satisfaz o meu desejo original e revela, nesse desejo, um elemento que eu não havia notado. Deixando, por um momento, de considerar os meus próprios desejos, comecei a conhecer melhor o que eu realmente desejava. Quando há pouco tentava descrever os nossos anseios espirituais, omiti uma de suas mais curiosas características. Geralmente, ela faz-se notar no próprio momento em que a visão fenece, a música termina ou a paisagem perde a iluminação celestial. Keats descreveu o que sentimos nesse momento como “a viagem de regresso ao eu habitual”. Vocês sabem do que se trata. Durante alguns minutos tivemos a ilusão de pertencer àquele mundo. Mas agora acordamos e descobrimos que não é assim. Fomos meros espectadores. A beleza sorriu, mas não para receber-nos; o seu rosto voltou-se em nossa direção, mas não para ver-nos. Não fomos aceitos, nem acolhidos, nem fomos convidados para a festa. Podemos partir, se quisermos; podemos ficar, se conseguirmos: “ninguém dará por nós”. Um cientista pode replicar que, sendo inanimada a maioria das coisas a que chamamos belas, não é de admirar que não nos perceba. É verdade. Mas não é dos objetos físicos que falo, mas daquela coisa indescritível da qual eles momentaneamente se tornam mensageiros. E parte da amargura que se confunde com a doçura dessa mensagem deve-se ao fato de que raramente essa mensagem parece destinada a nós, antes, algo que ouvimos por acaso. E, quando falo de amargura, penso em dor, não em ressentimento. Dificilmente ousaríamos pedir nos dessem atenção — mas nos lamentamos. A sensação de que somos tratados como estrangeiros neste universo, o desejo de nos fazer notar, de encontrar alguma resposta, de vencer o abismo que nos separa da realidade, tudo isso faz parte do nosso segredo inconsolável. E, com certeza, desse ponto de vista, a promessa de glória, no sentido já descrito, torna-se altamente relevante para o nosso profundo desejo. Porque glória significa ter bom nome diante de Deus, ser aceito por ele, ter sua resposta, reconhecimento, ser introduzido no âmago das coisas. A porta em que batemos toda a vida finalmente se abrirá. Talvez pareça um tanto grosseiro definir glória como o fato de ser “notado” por Deus. Mas a linguagem do Novo Testamento é quase essa. Paulo promete àqueles que amam a Deus não, como seria de esperar, que conhecerão a Deus, mas que serão conhecidos por ele (1 Co 8.3). É uma promessa estranha! Deus não conhece todas as coisas em todos os tempos? Mas ecoa de forma medonha em outra passagem do Novo Testamento. Nela somos alertados de que qualquer um de nós pode ter de comparecer perante Deus para ouvir palavras aterradoras: “Não vos conheço. Apartai-vos de mim!”.

Excertos retirados do Livro Peso de Glória de C.S Lewis.


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A moralidade, ateísmo, atos super-rogatórios,Dilema de Eutífron, recompensa divina e outras ponderações! | exateus · 07/09/2015 às 13:23

[…] Excertos retirados do Livro Peso de Glória de C.S Lewis. Mais informações sobre o tema aqui: http://exateus.com/2015/07/21/como-sera-no-ceu/ […]

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