Igrejas são atacadas na Turquia “pós-golpe”

Por Jarbas Aragão / GospelPrime

O observatório Middle East Concern, que analisa a liberdade religiosa no Oriente Médio, denuncia que pelo menos duas igrejas foram vandalizadas na Turquia durante a tentativa de golpe em 15 de julho. Curiosamente, são locais conhecidos pelo assassinato de cristãos anos atrás.

Uma delas é a Igreja Protestante Malatya, na cidade homônima, localizada no leste do país. Em 2007, três cristãos – um missionário e dois ex-muçulmanos – foram torturados e mortos por causa de sua fé. Cinco suspeitos foram detidos, mas o julgamento ainda não ocorreu.

O pastor Tim Stone acredita que radicais se aproveitaram da situação caótica que o país viveu para vandalizar o templo, quebrando janelas e arrombando a porta principal.

Em Trabzon, na costa norte, cerca de 10 pessoas depredaram as janelas da Igreja Católica Santa Maria, onde, em 2006, o padre Andrea Santoro foi martirizado enquanto rezava ajoelhado diante do altar. A situação é similar, com pessoas investigadas, mas o julgamento sempre adiado.

Nas duas cidades, os principais suspeitos são parte do movimento Hizmet, grupo influente liderado pelo líder muçulmano Fetullah Gulen, acusado de planejar o golpe fracassado pelo presidente Recep Tayyip Erdoğan. Para os advogados das vítimas, essa acusação é política, uma vez que o governo turco procura motivos para criminalizar membros do Hizmet há anos.

Pedido por tolerância une judeus e cristãos

Logo após o fracasso da tentativa de intervenção militar que deixou pelo menos 290 mortos, líderes judeus, católicos e evangélicos fizeram uma declaração conjunta condenando o golpe e pedindo por “mais amor, paz e justiça” na Turquia.

A Associação de Igrejas Protestantes turcas também emitiu uma declaração à imprensa, pedindo sabedoria e entendimento aos líderes do país e convocando para uma campanha de oração pela paz.

A nação turca vive um período de instabilidade, que parece ter inflado o radicalismo.  A Rádio Cristã Shema, com sede na capital Ankara, anunciou que a “Fatihah” – oração muçulmana pelos mortos – “foi continuamente transmitida pelas 110.000 mesquitas em todo o país no domingo… homenageando ‘mártires’ que lutaram para impedir o golpe de Estado”.

Os cristãos representam apenas 0,2% dos 75 milhões de habitantes do país. Estima-se que 90.000 católicos armênios, 25.000 católicos romanos, 20.000 ortodoxos sírios, 15.000 ortodoxos russos, 7.000 evangélicos, 3.000 caldeus iraquianos e 2.500 ortodoxos gregos. Além disso, existem 20.000 judeus.

Fim do Estado Laico

O temor dos líderes cristãos é que Erdogan consiga acabar em breve com o conceito de Estado laico, uma das bases da Turquia moderna, desde que foi estabelecida por Mustafa Kemal Ataturk, em 1923, após o fim do Império Otomano. Ao se confirmarem as previsões recentes, o presidente turco irá impor no país a lei sharia, o que significaria que qualquer não islâmico pode ser morto, acusado de ser “infiel”.

O pastor Ian Sherwood, que vive há décadas em Istambul, sendo atualmente responsável pela  Igreja Anglicana Memorial da Crimeia, afirma que a comunidade cristã está “alarmada” após os últimos acontecimentos.

Sob Erdogan, o islamismo na Turquia voltou a ocupar um espaço proeminente e, com isso, criado um clima de temor nos cristãos.  Para ele, é visível “uma tendência crescente de intolerância para com não-muçulmanos”. Narra, por exemplo, que jovens muçulmanos invadiram o pátio da igreja gritando ‘Allahu Akbar’, espécie de grito de guerra, comum em ataques terroristas ao redor do mundo.

“Não sou otimista com a situação dos cristãos na Turquia”, diz Sherwood. Ele afirma que muitos cristãos estão falando em sair do país. “Qualquer líder cristão, se for honesto, dirá que o que está acontecendo é bastante alarmante”, sublinha. Teme ainda que a “guerra ao cristianismo” em vigor nos países vizinhos como Síria e Iraque, chegue até solo turco definitivamente.

David Lidington, secretário de Estado britânico para a Europa, que defende a entrada da Turquia na União Europeia, no início do ano afirmou que uma das condições para isso era a segurança que existia no país liberdade religiosa e de imprensa. O governo turco assegurou que não existiam violações dos diretos humanos, mas se nega a ser inspecionado por estrangeiros. Com informações de Spectator eWord Watch News


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