Nestório e o concilio de Efeso

Ao longo da história, a teologia cristã tem sido palco de diversos debates e controvérsias que moldaram as doutrinas e crenças da fé. Um desses debates cruciais ocorreu no Concílio de Éfeso, realizado no ano de 431, e envolveu o patriarca de Constantinopla, Nestório. Neste artigo, exploraremos a figura de Nestório, suas crenças teológicas e como o Concílio de Éfeso marcou um ponto de inflexão na cristologia.

Nestório: O Patriarca de Constantinopla

Nestório nasceu na Síria, por volta do ano 386, e tornou-se patriarca de Constantinopla em 428. Ele era conhecido por sua habilidade oratória e erudição, sendo admirado por muitos. No entanto, suas crenças teológicas levaram a um conflito que abalou a Igreja Cristã.

As Crenças de Nestório

A principal controvérsia em torno de Nestório estava relacionada à sua visão sobre a natureza de Cristo. Ele argumentava que Jesus Cristo tinha duas naturezas distintas: uma humana e outra divina. Para Nestório, essas naturezas estavam unidas em uma só pessoa, mas não eram totalmente misturadas. Ele preferia usar a expressão “Cristo encarnado” ao invés de “Deus encarnado” para enfatizar a distinção entre as naturezas.

De acordo com a teologia de Nestório, Maria, mãe de Jesus, não deveria ser chamada de “Theotokos”, ou “Mãe de Deus”, pois isso implicava que ela teria dado à luz ao aspecto divino de Cristo. Em vez disso, ele propôs que Maria fosse chamada de “Christotokos”, ou “Mãe de Cristo”, para enfatizar a natureza humana de Jesus.

O Concílio de Éfeso e a Condenação de Nestório

As visões de Nestório geraram um amplo debate teológico e levaram à convocação do Concílio de Éfeso em 431. O concílio foi convocado pelo imperador romano Teodósio II e reuniu bispos e teólogos de várias partes do Império Romano.

No Concílio de Éfeso, os ensinamentos de Nestório foram considerados heréticos pela maioria dos participantes. Eles acreditavam que as naturezas divina e humana de Cristo estavam tão intimamente unidas que não poderiam ser separadas ou divididas. Maria, portanto, era verdadeiramente a “Mãe de Deus” por ter dado à luz o Verbo encarnado.

O Concílio de Éfeso proclamou a doutrina da união hipostática, afirmando que Jesus Cristo era uma única pessoa, em duas naturezas indivisíveis, divina e humana. Nestório foi deposto e exilado, e sua visão teológica foi considerada herética pela Igreja.

Legado e Reflexões Finais

O debate entre Nestório e o Concílio de Éfeso teve um impacto duradouro na teologia cristã. A doutrina da união hipostática, proclamada em Éfeso, tornou-se um dos pilares fundamentais da cristologia ortodoxa e católica. A definição da natureza de Cristo como verdadeiramente Deus e verdadeiramente humano influenciou a compreensão da salvação e da redenção.

Além disso, o conflito em torno de Nestório levantou questões mais amplas sobre a natureza da encarnação e a relação entre as naturezas divina e humana. Essas questões continuaram a ser debatidas ao longo dos séculos, enriquecendo a teologia cristã e promovendo um maior entendimento da pessoa de Jesus Cristo.

Em conclusão, o Concílio de Éfeso e o debate com Nestório desempenharam um papel essencial na formação da cristologia. Embora as crenças de Nestório tenham sido condenadas como heréticas, o confronto teológico que ocorreu nesse período foi fundamental para aprofundar a compreensão da natureza de Cristo e da doutrina da encarnação.

Referências para Estudo:

  1. The Church in Ancient Society: From Galilee to Gregory the Great” – Henry Chadwick
  2. “The Formation of Christian Doctrine” – Malcolm B. Yarnell III
  3. “The Christology of the Later Fathers” – Edward R. Hardy

 


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