A Bíblia relata um episódio em que Josué, o líder dos israelitas, orou a Deus e o sol parou no céu por quase um dia inteiro (Josué 10:13).
Esse acontecimento é considerado um dos maiores milagres registrados nas Escrituras, pois mostra o poder inatingível de Deus que está além dos limites conhecidos pelo homem.
Mas como entender esse fenômeno? Foi um evento natural ou sobrenatural? Foi literal ou figurado? Qual foi o propósito de Deus ao atender a oração de Josué?
O contexto histórico
O relato bíblico se encontra no livro de Josué, que narra a conquista da Terra Prometida pelos israelitas, após a saída do Egito e a travessia do deserto. Josué era o sucessor de Moisés, que havia morrido antes de entrar na terra.
Deus havia prometido a Josué que lhe daria a vitória sobre os povos que habitavam a terra, desde que ele fosse fiel à sua aliança e à sua lei (Josué 1:1-9).
Um dos episódios mais importantes da conquista foi a tomada de Jericó, a primeira cidade fortificada que os israelitas enfrentaram.
Deus ordenou a Josué que cercasse a cidade por sete dias, e que no sétimo dia, os sacerdotes tocassem as trombetas e o povo gritasse.
Então, os muros de Jericó caíram, e os israelitas entraram e destruíram a cidade, exceto a família de Raabe, uma prostituta que havia acolhido os espiões enviados por Josué (Josué 6).
Depois de Jericó, os israelitas atacaram a cidade de Ai, mas foram derrotados, pois havia um pecado no meio do povo. Um homem chamado Acã havia roubado alguns objetos da cidade de Jericó, que deveriam ser consagrados a Deus.
Josué descobriu o culpado e o apedrejou, juntamente com sua família e seus bens. Então, Deus se tornou favorável a Israel novamente, e lhes deu a vitória sobre Ai (Josué 7-8).
A próxima cidade a ser conquistada foi Gibeão, mas os gibeonitas enganaram Josué, fingindo ser de uma terra distante, e fizeram uma aliança de paz com ele.
Josué jurou não atacá-los, mas depois descobriu que eles eram vizinhos dos israelitas. Josué repreendeu os gibeonitas, mas manteve o juramento, e os tornou servos dos israelitas (Josué 9).
A aliança entre Josué e os gibeonitas despertou a ira dos reis amorreus, que se uniram para atacar Gibeão. Os gibeonitas pediram socorro a Josué, que marchou com todo o seu exército para defendê-los.
Foi nesse contexto que Josué orou e o sol parou.
O fenômeno do sol parado
O texto bíblico diz que Deus falou com Josué e lhe garantiu que daria a vitória a Israel contra os amorreus, que haviam cercado a cidade de Gibeão.
O Senhor interveio diretamente naquela batalha, lançando pedras grandes do céu sobre os inimigos de Israel, matando mais deles do que os que morreram pela espada (Josué 10:11).
Então, Josué orou ao Senhor, na presença de todo o Israel, e disse:
Sol, detém-te em Gibeão, e tu, lua, no vale de Aijalom. E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Não está isto escrito no livro de Jasar? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro.
E não houve dia semelhante a esse, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor assim a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel. (Josué 10:12-14)
Por que Josué orou e o sol parou? O texto bíblico não explica claramente o motivo dessa oração, mas é possível que Josué tenha pedido a Deus que prolongasse o dia para que os israelitas pudessem derrotar completamente os amorreus, antes que a escuridão da noite favorecesse a fuga deles.
Outra possibilidade é que Josué tenha pedido a Deus que interrompesse o movimento do sol e da lua para causar confusão e pavor nos amorreus, que adoravam esses astros como deuses.
De qualquer forma, o que importa é que Deus atendeu a oração de Josué, e fez com que o sol e a lua parassem no céu por quase um dia inteiro, até que Israel vencesse a batalha.
As interpretações do fenômeno do Sol parado
A passagem em que Josué orou e o sol parou, é alvo de muitas discussões e polêmicas, pois envolve questões científicas e teológicas.
Alguns estudiosos tentam explicar esse fenômeno de forma natural, sugerindo que houve um eclipse solar, uma refração atmosférica, ou uma alteração no movimento de rotação da Terra.
Outros defendem que se trata de um milagre sobrenatural, que demonstra o poder e a soberania de Deus sobre a criação.
Há também quem interprete essa passagem de forma poética ou figurada, usando o recurso da linguagem do observador, que descreve os eventos conforme a percepção humana, sem se preocupar com a precisão científica.
A interpretação naturalista busca conciliar o relato bíblico com as leis da natureza, e propõe que Deus usou algum fenômeno astronômico ou meteorológico para atender a oração de Josué.
Por exemplo, alguns sugerem que houve um eclipse solar, que escureceu o céu e assustou os amorreus, fazendo-os pensar que o sol havia parado.
Outros sugerem que houve uma refração atmosférica, que fez com que o sol e a lua parecessem estar em posições diferentes das habituais, dando a impressão de que o tempo havia parado.
Ainda outros sugerem que houve uma alteração no movimento de rotação da Terra, que fez com que o dia durasse mais do que o normal, permitindo que os israelitas terminassem a batalha.
A interpretação sobrenaturalista afirma que Deus interveio de forma direta e extraordinária na ordem natural, e fez com que o sol e a lua realmente parassem no céu por quase um dia inteiro.
Essa interpretação se baseia na onipotência e na soberania de Deus, que pode fazer o que quiser com a sua criação, sem estar limitado pelas leis da natureza.
Essa interpretação também se apoia na autoridade e na inspiração das Escrituras, que devem ser tomadas ao pé da letra, sem a necessidade de acomodar o relato bíblico às teorias científicas.
A interpretação poética ou figurada entende que o relato bíblico usa uma linguagem simbólica ou metafórica, que não deve ser interpretada literalmente, mas de acordo com o seu sentido original e o seu propósito teológico.
Essa interpretação reconhece que o autor bíblico usou o recurso da linguagem do observador, que descreve os eventos conforme a percepção humana, sem se preocupar com a precisão científica.
Essa interpretação também considera que o autor bíblico se baseou em uma fonte antiga, o livro de Jasar, que era um registro de canções e poemas sobre os feitos heroicos de Israel.
Portanto, o relato bíblico não pretende ser um relato histórico ou científico, mas uma expressão de louvor e admiração pelo poder de Deus, que agiu em favor do seu povo.
A lição do fenômeno do Sol de Josué
Seja qual for a melhor forma de entender o relato em que Josué orou e o sol parou, o que fica evidente é que Deus ouviu a oração de Josué e agiu em favor do seu povo, cumprindo a sua promessa de dar-lhes a Terra Prometida.
Esse é um exemplo de fé e confiança em Deus, que pode fazer coisas extraordinárias para realizar o seu propósito.
A lição que podemos tirar desse episódio é que Deus é fiel às suas promessas, e que ele pode usar meios naturais ou sobrenaturais para responder às nossas orações.
Não devemos limitar o poder de Deus às nossas expectativas ou compreensões humanas, mas devemos reconhecer que ele é o Senhor da criação, e que ele pode fazer muito mais do que pedimos ou pensamos (Efésios 3:20).
Também devemos aprender com Josué a orar com ousadia e fé, crendo que Deus é capaz de fazer o impossível. Josué não se intimidou diante dos inimigos, nem duvidou da palavra de Deus.
Ele orou com confiança e autoridade, e Deus lhe concedeu a vitória. Da mesma forma, nós devemos orar conforme a vontade de Deus, e esperar que ele nos dê a graça e o poder para vencer as batalhas que enfrentamos na vida.
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