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Por Humphrey Clarke

O termo “Idade das Trevas” não foi bem definido pelo inquiridor mas o mesmo normalmente refere-se à deterioração cultural e económica que ocorreu na Europa Ocidental depois da queda do Império Romano. Normalmente existem dois aspectos do que pode ser chamada de “a tese da culpa Cristã”: primeiro, que o Cristianismo foi um factor contributivo significante para o declínio e para a queda do Império Romano, e segundo, que a nova religião era hostil ao conhecimento clássico e que, à medida que o Império Romano entrava em colapso, esta nova religião não se esforçou o suficiente para preservar o conhecimento clássico.

A primeira teoria tem um pedigree ilustre visto que foi promovida por Edward Gibbon no capítulo 39 do seu Magnus Opus com o nome de ‘O Declínio e a Queda do Império Romano’. Gibbon especulou que a “introdução, ou pelo menos o abuso do Cristianismo, teve alguma influência no declínio e na queda do Império Romano.” Segundo o seu ponto de vista, o Cristianismo quebrou a unidade ideológica do Império e perturbou a habilidade do estado de ganhar apoio junto das massas. Os recursos financeiros e humanos foram desviados de objectivos materiais vitais e o descontentamento foi-se alastrando – o que colocou em causa a legitimidade imperial.

Como uma teoria geral ampla, o ponto de vista de Gibbons tem muito pouco em seu favor. Antes de mais, qualquer explicação que seja proferida para a queda do Império Romano tem que contender com o facto de que a metade oriental do Império Romano manteve-se relativamente forte e estável enquanto a metade ocidental entrou em colapso. A ala Oriental era ainda mais Cristã que a Ocidental no entanto, não só não entrou em colapso, como se manteve como o Império Bizantino até ao século 15.

Será que a teoria de Gibbons funciona a um nível mais baixo como forma de demonstrar que o Cristianismo foi um factor contributivo?

Também aqui a sua teoria sofre de falta de evidências. Embora o Cristianismo tenha dado início a algo análogo a uma revolução cultural depois da conversão de Constantino, é difícil olhar para isto como um evento que teve um sério efeito deletério no império. É certo que as instituições religiosas Cristãs de facto exigiam enormes recursos financeiros, no entanto estas instituições estavam a substituir as instituições pagãs que recebiam enormes doações (que foram sendo progressivamente confiscadas). Logo, a ascensão das organizações Cristãs parece ter envolvido de forma geral uma transferência de bens de religião para religião, e não um desvio de verbas dos cofres seculares.

Semelhantemente, mão-de-obra perdida para o claustro parece ter sido mínima – talvez na ordem de alguns milhares de indivíduos – algo que dificilmente constitui uma quebra maciça na mão-de-obra do império. Uma porção da aristocracia abdicou da sua riqueza e do seu poder em favor duma vida de devoção Cristã – um número insignificante quando comparado com o número de pessoas que escolheu servir a burocracia imperial.

Será que o Cristianismo fragilizou a unidade ideológica do Império?

Não; na verdade, a religião e o império agiram para favorecer a unidade, com o Deus Cristão colocado como Aquele que atribuía ao Imperialismo Romano uma missão de conquistar, converter e civilizar o mundo. Os imperadores eram visto como escolhidos a dedo por Deus, e, desde logo, impregnados com um estatuto sagrado. A rejeição do Império era uma posição marginal junto dos pensadores Cristãos.

Será que as discussões doutrinárias entre os Cristãos enfraqueceram o Império?

Mais uma vez, há poucas evidências em favor desta posição. Certamente que as histórias da época eram dominadas por disputas teológicas, dando desde logo uma impressão dum frenesim e dum desacordo religioso. Isto prende-se com o facto das fontes deste período serem em larga medida histórias da Igreja. Isto seria como depender das memórias de Fred Phleps para se obter uma história fiel dos Estados Unidos durante o século 20. Na realidade, os historiadores mais seculares tais como Ammianus Marcellinus quase que nem menciona as disputas doutrinárias. Ocorreram ocasionalmente tumultos de grandes proporções mas estes estavam essencialmente confinados entre os bispos.

Resumindo, a Cristianização parece ter sido efectivamente subsumida dentro das estruturas do Império, e muitos historiadores alegam que ela agiu como um efeito estabilizador. Portanto, a teoria de Gibbons foi totalmente invertida.

O que dizer da segunda teoria? Será que a ascensão do Cristianismo causou um mal-estar na cultura intelectual, causando uma idade das trevas científica?

Sem sombra de dúvidas que houve um declínio no conhecimento científico no Império Romano Ocidental à medida que ele entrava em colapso, mas as raízes disto são profundas e podem ser rastreadas até ao Romanos pagãos. Depois de 200 A.C. passou a existir um contacto cultural frutífero entre os Gregos e as bilingues classes altas Romanas. Isto introduziu no Império Romano uma versão da tradição clássica mas só uma escassamente popularizada versão é que foi traduzida para o Latim.

O bilinguismo e as condições para estudos entraram rapidamente em declínio depois de 180 AD à medida que o império entrou na crise do 3º século. O caos deste século causou uma perturbação junto das infraestruturas educacionais e a divisão do império em dois causou a que o conhecimento do Grego entrasse em declínio no ocidente. Os cidadãos Romanos que se estavam a tornar gradualmente Cristãos encontravam-se portanto, limitados a pedaços da tradição clássica que havia sido explicada e sumariada pelos autores Latinos.

Depois disto, a cultura intelectual entrou em declínio dramático no ocidente devido ao colapso do controle centralizado neste mesmo ocidente, consequência dos ataques dos bárbaros, do declínio na alfabetização e da perda do Grego, da redução do comércio, da queda acentuada na densidade populacional, e devido à dimensão da destruição. Entre o século 4º ao século 11º, o Império Ocidental foi varrido por bárbaros Germânicos e Nórdicos, o que causou a destruição de toda a infraestrutura Imperial.

Enquanto isso, a mais rica e completa versão da tradição clássica caiu nas mãos dos muçulmanos à medida que eles se expandiam rapidamente pela Ásia e pelo Mediterrâneo. Depois disto, esta tradição foi traduzida para o arábico, desenvolvida ainda mais, e transladada do Norte de África para a Espanha. Mal a Europa Ocidental se recuperou de modo suficiente, os seus intelectuais viajaram para Espanha para traduzir o material e trazê-los para a cultura medieval.

Será que havia uma corrente anti-intelectual na cultura Cristã primitiva que causou a que ela fosse um ninho de sentimentos anti-científicos?

Aqui, o exemplo mais citado é Tertuliano, que famosamente disse “O que é que Atenas têm haver com Jerusalém?” em oposição acesa à tradição clássica. No entanto, e de modo geral, esta posição contra-cultural era minoritária e ela perdeu a sua posição para aqueles como Justino Mártir, que buscou pontos comuns entre a filosofia clássica e o Cristianismo, e (mais importante ainda) Agostinho de Hipona.

Agostinho, embora tivesse sido ambivalente em relação ao conhecimento Grego, aplicou-o vigorosamente nos seus textos relativos às Escrituras, e surgiu com a ideia da largamente influente “fórmula da serva” onde a filosofia natural poderia ser útil na interpretação da Bíblia. (Obviamente que hoje em dia todos nós acreditamos que – em princípio – a ciência deveria ser estudada para o seu próprio bem, mas esta posição haveria de ter sido estranha no mundo clássico onde ela se encontrava subordinada à ética e ao empreendimento filosófico mais abrangente). A fórmula da serva foi usada durante toda a Idade Média como justificação para a investigação da natureza.

Em última análise, a segunda teoria falha porque o Cristianismo é a mais importante estrutura intelectual dentro da qual sobreviveu a cultura antiga-tardia. Longe de serem broncos intelectuais, parece que os Cristãos estiveram tão interessados na filosofia, na ciência, e na medicina Gregas que eles as preservaram através dum processo laborioso de cópia manual. Isto inclui as obras de Euclides, Ptolomeu, Platão, Aristóteles, Galeno, Simplício e muitos outros, incluindo umas espantosas 1,500 páginas de comentário em Grego de Aristóteles, feitos entre o 2º ao 6º século AD. As obras médicas de Galeno são 1/5 de todo o corpo de conhecimento Grego que sobreviveu ao tempo – cerca de 2 milhões de palavras copiadas à mão e preservadas através dos séculos.

Claro que algumas pessoas podem alegar que os Cristãos deveriam ter preservado mais obras de “cientistas” antigos – por exemplo, as palavras perdidas de Neocles de Kroton (que alegou que os sapos têm dois corações – um venenoso e outro saudável – e que a lua era habitada pelo Leão de Neméia). Para lidar com isto, idealizei um “Campo de Treino da Idade Média” onde os críticos serão forçados a usar um hábito dum monge e copiar para um papiro, e à mão, o livro ‘A short History of nearly everything’ de Bill Bryson, ao mesmo tempo que figurantes vestidos de bárbaros vão destruindo todas as suas coisas.

Conclusão:

As duas teorias que tentam atribuir culpas ao Cristianismo falham por falta de evidências. Elas ainda persistem devido ao seu ilustre pedigree, e devido ao facto das pessoas insistirem que o passado se ajuste ao enquadramento moderno.

http://goo.gl/mXIKc6

Mais em https://darwinismo.wordpress.com


1 comentário

Marcelo · 20/05/2015 às 10:50

Qualquer um pode dizer que acredita em Deus, pois, segundo a Palavra, até o diabo è crente (“cre que Deus existe e estremece”).

Da mesma forma, até o mais abominàvel do mortais pode dizer que è cristao e usar o nome do Filho de Deus para quaisquer objetivos (escusos ou nao).

Como sair, entao, dessa armadilha e identificar se alguem è realmente um cristao? Simples!!! Basta ler as Escrituras Sagradas, pois o Senhor Jesus deixou a pista decisiva para diferenciarmos a moeda verdadeira da falsa, qual seja: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. POR SEUS FRUTOS OS CONHECEREIS”

Ou seja, quem nao produz as obras de Deus (nao anda como o Mestre andou), nunca lhe conheceu e o seu destino è as trevas eternas.

Outrossim, na sequencia dos versiculos supracitados, o Senhor Jesus nos instrui acerca de outro detalhe de fundamental importancia para nao cairmos nas armadilhas do diabo, qual seja: “So PODE PRODUZIR FUTOS VERDADEIRAMENTE BONS, AQUELE QUE ESTIVER ENXERTADO NA VIDEIRA VERDADEIRA”.

Ou seja, somente aquele que obedece a doutrina apostolica è, verdadeiramente, um CRISTAO, o que passar disso tem procedencia maligna, pois todos os homens sao MAUS desde o nascimento.

Cristao legitimo è aquele que reconhece isso, se humllha e entrega sua vida à Palavra de Deus, fazendo tudo aquilo que Deus determina, o que nao è o caso da idolatria romana que, ao longo dos seculos vem cometendo uma serie de barbaridades em nome do Senhor Jesus. Nao sei como essa instutuiçao tem a coragem se dizer crista e macular o nome do Filho de Deus….

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