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Martinho Lutero e a Reforma Protestante

Martinho Lutero é um dos personagens mais discutidos do Cristianismo de todos os Tempos. Para uns, Lutero é o malvadão que destruiu a unidade da Igreja. Para outros ele é o grande herói que fez a Igreja voltar ao Evangelho Puro, o reformador de uma Igreja que estava corrompida.

Lutero aparece ao mesmo tempo como um homem rude e erudito era sincero e aparentemente vulgar. Sua fé era inabalável e nada mais  lhe importava tanto  como ela. Seguia até as últimas consequências quando achava que tinha que cumprir um propósito de Deus.

Era um poliglota que dominava de forma magistral o Latim e o Alemão. Uma vez convencido da verdade, estava disposto a enfrentar qualquer risco por ela e por conta disso mesmo, algumas vezes tomou atitudes que seus amigos e seguidores deploraram.

No entanto, a revolução que Lutero causou, se deve em boa parte às circunstâncias que estavam de fora de seu alcance, sendo que ele mesmo não se apercebia. A invenção da Imprensa fez com que as Obras de Lutero fossem espalhadas de uma maneira que décadas atrás não seria possível.

O forte nacionalismo alemão do qual ele mesmo era adepto foi um apoio inesperado e muito valioso em  suas empreitadas. Os humanistas que sonhavam com uma Reforma mais no estilo de Erasmo e que não gostavam dos exageros e estilos do monge alemão também não aceitavam que Lutero fosse esmagado como aconteceu com João Huss no século anterior.

Assista também o vídeo desse artigo: Martinho Lutero: Vida e Obra – Reforma Protestante – Resumo

Por conta dessas circunstâncias, quando as autoridades eclesiásticas e políticas acharam que era hora de agir contra Lutero, na verdade já era tarde demais para calar o seu protesto. Como em outros momentos de ruptura na história, a tão esperada reforma aconteceu não porque Lutero se havia proposto a isso, mas porque ele chegou no momento exato, e nesse momento, o reformador e outros que estavam com ele estavam dispostos a cumprir suas responsabilidades históricas.

Biografia de Martinho Lutero

Martinho Lutero

Lutero nasceu em Eisleben, cidade da Saxônia, no Condado de Mansfield,  Alemanha, em 10 de novembro d 1483. Seu pai Juan Lutero  e sua mãe Margarita Ziegler eram  de origem humilde. Seu pai trabalhava nas Minas. Isabel herdara o trono de Castela sete anos antes, ou seja, as medidas reformadoras da Monarca já tinha sido implantadas na Espanha.

O Pai de Martinho Lutero

A profissão do pai de Lutero Juan Lutero era de mineiro. Porém, é provável que por seu esforço e trabalho tenha juntado um bom dinheiro para a sua família, porquanto posteriormente, chegou a ser um magistrado de classe e dignidade.

A infância e os primeiros estudos

Martinho conta que não teve uma infância feliz. Seus pais eram extremamente severos com ele. Lutero mesmo, contava com amargura alguns dos castigos que sofreu. Durante grande parte da sua vida foi acometido por períodos de depressão e profunda angustia.

Lutero foi prontamente iniciado nos estudos, e aos 13 anos de idade foi enviado a uma escola de Magdeburgo, e dali a Eisenach, na Turíngia, onde permaneceu por quatro anos, onde demonstrou as primeiras indicações de sua futura iminência.

Na escola, o menino Lutero, também não teve vida fácil, sempre se queixava em suas lembranças de como o golpeavam quando não sabia suas lições. Logicamente, todas essas situações em que viveu, deixaram marcas permanentes no caráter do jovem Reformador.

Martinho Lutero: Universidade e Mosteiro

Em 1501, foi enviado à Universidade de Erfurt, onde passou pelos costumeiros cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu sua Licenciatura, e passou logo a ensinar a física de Aristóteles, ética e outros assuntos filosóficos.

Posteriormente, por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil, a fim de trabalhar como advogado.

Lutero

Em 1505, pouco antes de completar 22 anos, Lutero ingressa no mosteiro agostiniano de Erfut. As causas que o levaram a tomar essa decisão foram muitas. Duas semanas antes, quando se achava no meio de uma tempestade com fortes raios, sentiu um intenso medo da morte e do inferno, fazendo uma promessa a Santa Ana que se tornaria monge.

O fato foi este: Ao andar certo dia pelos campos, foi lançado ao solo por um raio, enquanto um amigo morreu ao seu lado. Este fato afetou-o de tal modo que, sem comunicar o seu propósito a nenhum amigo, retirou-se do mundo e enclausurou-se junto à ordem dos eremitas de Santo Agostinho.

Lutero também dizia que os rigores de sua casa o levaram ao mosteiro. Seu Pai queria que o filho se tornasse advogado e fazia grandes esforços para que seu filho conquistasse essa carreira. Lutero, por outro lado, não queria ser advogado e provavelmente o monastério também foi uma válvula de escape contra o intento de seu progenitor.

O pai de Lutero ficou profundamente irado quando soube da noticia que seu filho adentrara ao Monastério e demorou muito para lhe perdoar por este ato. No entanto, a força principal que levou Lutero à vida monástica foi o seu interesse pela própria Salvação.

Lutero e a Salvação

O Tema da Salvação e da Condenação impregnava todo o ambiente de sua época. A vida presente parecia ser apenas uma preparação para a vida do porvir. Portanto, para Lutero, seria tolice ganhar dinheiro e prestígio com a advocacia e descuidar da sua alma.

Martinho Lutero a salvação pela fé

Lutero entrou no Mosteiro como um fiel filho da Igreja Católica e com o propósito de utilizar todos os meios possíveis sugeridos pela Igreja para a Salvação e o meio mais seguro para isso seria seguir uma vida de monge.

Dedicou-se ali à leitura das obras de Santo Agostinho e dos escolásticos; porém, ao vasculhar a biblioteca, encontrou, acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais havia visto antes. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade. Leu-a ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas pequena parte das Escrituras era ensinada ao Povo.

Seus anos iniciais no Mosteiro correram tranquilamente, Lutero fez seus votos e os seus superiores o escolheram para se tornar sacerdote. Segundo seu próprio relato, na sua primeira celebração de uma missa, o temor de Deus se apoderou dele, quando ele refletiu que estava oferecendo nada mais, nada menos do que Jesus Cristo.

Constantemente, esse temor do Senhor o assolava pois Lutero não se sentia seguro com tudo o que estava fazendo para garantir a sua Salvação. Deus lhe parecia um severo juiz, como antes, seus pais e professores haviam sido, que no Juízo Final lhe pediria contas de tudo o que tinha feito na vida e o acharia em dívida.

Lutero tinha um sentimento muito forte de sua própria pecaminosidade e nem mesmo as boas obras e as confissões eram suficientes para que o jovem monge se sentisse confortável com relação à sua Salvação. Lutero se esforçava em ser um religioso perfeito, repetidamente se martirizava como lhe ensinavam os monges mais velhos.

Lutero se confessava várias vezes no mesmo dia, no mesmo momento que saia do confessionário lembrava que um pecado não havia sido confessado e voltava, já estava ficando em uma situação desesperadora.

Martinho Lutero e o Misticismo

Lutero foi então aconselhado a seguir o caminho dos místicos, a ler as suas obras. No período do fim da Idade Média, houve uma onda de misticismo impulsionado pela sentimento de que a Igreja por causa de sua corrupção não seria o melhor caminho para aproximar-se de Deus.

O Misticismo cativou Lutero por algum tempo mas logo se mostrou outro caminho infrutífero. Os místicos diziam que bastava amar a Deus para a Felicidade, pois tudo era uma consequência do amor. Lutero inicialmente encarou esse pensamento com uma palavra de libertação, mas logo ele percebeu que amar a Deus não era tão simples assim.

Lutero ainda tinha Deus como um carrasco que como seus pais e professores lhe surravam até tirar sangue. Lutero chegou até a confessar que não amava a Deus, mas que O odiava. Lutero se viu então em uma encruzilhada, pois por mais que se confessasse, seus pecados sempre iam além e também descobriu que amar um Deus que lhe pedia contas de todas as suas ações era impossível.

A Caminho de Wittenberg e a Grande Descoberta.

Foi nesse beco sem saída que o Confessor e Superior de Lutero resolveu virar a chave do Noviço. Martinho se surpreendeu quando seu Superior ordenou que se preparasse para ministrar cursos sobre as Escrituras na Universidade de Wittenberg.

Este Ancião, conversava com Lutero sobre vários assuntos, especialmente sobre a remissão dos pecados. Sobre este tema, este sábio padre foi franco com Lutero, ao dizer-lhe que o expresso mandamento de Deus é que cada homem creia particularmente que os seus pecados foram perdoados em Cristo.

Lutero

Disse-lhe ainda que esta interpretação particular fora confirmada por São Bernardo: ” Este é o testemunho que o Espírito Santo te dá em teu coração, quando diz: Os teus pecados te são perdoados. Porque este é o ensino do apóstolo Paulo que o homem é livremente justificado pela fé”.

Lutero na Corte do Papa em Roma

Em 1512, sete mosteiros de sua ordem tiveram uma divergência com o seu vigário geral. Lutero foi escolhido para ir a Roma e defender a sua causa. Na cidade, pode contemplar de perto o Papa e sua corte, e pode observar as maneiras do Clero, cujos modos precipitados, superficiais e ímpios de celebrar a missa foram severamente por ele criticados.

Assim que ajustou a disputa que havia motivado a sua ida à Roma, voltou a Wittenberg e foi constituído doutor em Teologia, aos auspícios de Frederico da Saxônia, que frequentemente lhe ouvia pregar, e que estava familiarizado com o seu mérito, e que lhe reverenciava muito.

Martinho Lutero e a Justificação pela fé

Em meados de 1513, Lutero começou a dar aulas sobre os salmos. Lutero interpretava os Salmos Cristologicamente, neles era o próprio Cristo falando. Nos Salmos Lutero percebeu o próprio Cristo passando pelas mesmas angústias que passava. Esse foi o início de sua grande descoberta.

Martinho Lutero justificação pela fé

A fim de preparar-se melhor para essa incumbência, aplicou-se disciplinarmente ao estudo dos idiomas grego e hebraico.

Ainda que alguns críticos diga que Lutero não conhecia a Bíblia, isso não é correto. Como Monge, Lutero sabia o saltério de memória de tanto recitá-lo. Além disso, Lutero já era doutor em Teologia, consequentemente ela conhecia muito das Escrituras. Sem falar que ela já tinha encontrado uma cópia da mesma na Biblioteca.

Lutero começa então a achar consolo para as suas angústias, nas angústias de Jesus Cristo, mesmo que isso estivesse contra aos ensinos da Igreja da época voltada nas obras, confissões e martírios para o perdão dos pecados.

A ficha da Grande Descoberta, caiu por completo, quando em 1515, Lutero começa a ministrar palestras sobre a epístolas aos Romanos. Já no primeiro capítulo da Epistola, o monge começa a encontrar respostas sólidas para as suas dificuldades.

Só que aceitar a Grande Descoberta não foi fácil, foi precedida de muita luta interna e angústia. Não foi fácil  depois de tanto ensino católico sobre obras, aceitar que “O Justo vive da Fé”.  Em Romanos 1.17, começa dizendo que “no evangelho a justiça de Deus se revela”.

Martinho passa então meditar dia e noite sobre o que seria a “Justiça de Deus”, frase que ele odiava. A resposta foi impactante, descobriu que a Justiça de Deus não se referia a castigos como pregava a Teologia Tradicional da época, mas sim que a “Justiça” do justo não é obra deste, mas sim, Dom de Deus.

Lutero diz que quando entendeu a Salvação pela Graça, foi como “nascer de novo”, todas a Escritura agora fez novo sentido para ele, dai em diante, a frase “justiça de Deus” não o encheu mais de ódio, mas se tornou grande presente de um doce amor.

Lutero e a Reforma Protestante

A “grande descoberta” de Lutero não o fez protestar imediatamente contra o ensino da igreja da época, mas o monge continuou reservado, dedicado a seus estudos e labores docentes e pastorais. Mesmo havendo índicios que ele começou a ensinar a Nova Teologia, ela não percebera de imediato que sua nova maneira de enxergar o evangelho ia contra a todo sistema de penitências e a própria Teologia da Igreja de sua época.

Lentamente, sem querer levantar nenhuma Controvérsia, Lutero ia convencendo seus pares na Univesidade de Wittenberg. Quando enfim, decidiu que era o momento de lançar suas ideias, compôs 95 teses que deviam servir de temas para o debate na Universidade.

Martinho Lutero e a reforma protestante

Nas Teses, Lutero atacava principalmente os fundamentos da Teologia Escolástica e esperava que a publicação dessas teses, e a sua posterior discussão, fossem a oportunidade de dar a conhecer sua descoberta ao restante do Clero e autoridades da Igreja.

No entanto, o debate não deu um grande quórum, somente os acadêmicos da Universidade compareceram. Ao que parece, a descoberta que o Evangelho deveria ser entendido de forma diferente do que comumente era ensinado, algo tão significativo para Lutero, não teve importância para o restante da Cristandade.

Foi só quando Lutero produziu outras Teses atacando a venda de Indulgências que se produziu uma revolução tal que toda a Europa se viu envolvida nas sua Consequências. Ao atacar as Indulgências o que era uma consequência natural de suas ideias sobre Salvação, Lutero se atreveu, ainda que sem saber, opor-se ao lucro e intentos de várias pessoas muito mais poderosas do que ele.

Lutero e a venda de Indulgências

Lutero e a venda de Indulgências

A venda de Indulgências tinha sido autorizada pelo Papa Leão X, e nela estava envolvido um comércio e interesses políticos de uma poderosíssima família, os Hohenzollern, que aspiravam o Controle sobre a Alemanha.

Um dos integrantes dessa Família, Alberto de Brandemburgo,  já tinha duas sedes episcopais e desejava também ocupar o arcebispado de Mainz que era o principal da Alemanha. Papa Leão X que foi um dos piores papas da história, indolente, avarento e corrupto, pediu dez mil ducados a Alberto em troca do que queria.

Tendo em vista que a soma de dinheiro (dez mil ducados) era volumosa, Leão X autorizou Alberto a proclamar uma grande venda de indulgências em seu território, contanto que a metade do arrecadado fosse enviado ao erário Papal.

Leão X sonhava em terminar a grande Basílica de São Pedro e precisava de fundos para tal empreendimento. Assim a Basílica que hoje é orgulho da Igreja Romana foi uma das causas tangenciais da Reforma Protestante.

O encarregado da venda de Indulgências na Alemanha Central era o dominicano João Tetzel, homem inescrupuloso que fazia declarações absurdas para promover sua Mercadoria. Uma dessas afirmações absurdas por exemplo era de que a Indulgência que ele e seus empregados vendiam, deixava o pecador “mais limpo do que quando saíra do batismo”.

Também diziam que “a cruz do Vendedor de Indulgências tinha tanto poder quanto a de Cristo”. Que quem comprasse uma Indulgência para algum parente já falecido, “tão pronto a moeda caísse no cofre, a alma saía do Purgatório“.

Os Humanistas intelectuais da época se indignavam com os atos de Tetzel e seus asseclas pois sabiam que a doutrina da Igreja não era assim, para a intelectualidade, a pregação de Tetzel era vista como o exemplo mais triste do estado em que a Igreja se encontrava.

O Nacionalismo alemão impregnado na alma do seu povo também se ressentia dessa situação, enxergava nas indulgências uma maneira pela qual o Papado Romano explorava mais uma vez o povo alemão, aproveitando da inocência da massa, para esbanjarem luxos e festins com os escassos recursos que os pobres alemães produziam com os calos das suas mãos.

Porém, apesar do contragosto, ninguém protestava da situação de descaramento e exploração e as vendas continuavam cada vez mais.

As 95 Teses de Martinho Lutero

As 95 teses de Martinho Lutero

Foi então, que Martinho Lutero fixou suas famosas 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Essas teses escritas em Latim, não tinham mais um propósito de comoção teológica como as anteriores. Essas 95 teses foram escritas acaloradamente com grande sentimento de indignação e eram mais impactantes do que as que já tinha feito anteriormente.

Nas 95 teses de Lutero, os ataques apontavam para a exploração da qual o povo era submetido através das vendas de Indulgencias. Na Tese 82, Lutero vai dizer que se o papa tinha poderes para tirar uma alma do purgatório, tinha que utilizar esse poder não por razões mundanas como a necessidade de fundos para se construir uma igreja, mas sim fazer por amor e gratuitamente.

O certo, seria então o Papa tirar do seu próprio bolso para dar dinheiro aos pobres dos quais os vendedores de indulgências tiravam, mesmo que fosse necessário para isso, vender a Basílica de São Pedro.(Tese 51)

Lutero tornou conhecida as suas teses na véspera da festa de Todos os Santos, e sua repercussão foi tal que essa data, 31 de outubro de 1517, marca historicamente o inicio da Reforma Protestante. Os impressores produziram grande quantidade de cópias das Teses e espalharam por toda a Alemanha.

Pouco tempo após a publicação das 95 teses, Tetzel, o frade dominicano, publicou também suas teses em Frankfurt, que continha um conjunto de preposições diretamente contrárias às de Lutero. Fez mais ainda, condenou do púlpito a Lutero considerando-o um anátema e herege e ainda queimou em público as teses em Frankfurt.

As teses de Tetzel também forma queimadas em Wittenberg, como ração dos luteranos. Porém o próprio Lutero negou ter parte nesse acontecimento.

Martinho Lutero mandou uma cópia a Alberto de Brandembugo, acompanhada com uma carta muito cordeal. Alberto enviou as teses para o Papa, pedindo a Leão X que interferisse na questão. O Imperador Maximiliano irou-se diante das atitudes e dos ensinamentos daquele monge intrometido, e também pediu a Leão X que interviesse.

A reação do Papa foi por a questão a cargo dos agostinianos, cuja a próxima reunião capitular aconteceria em Heidelberg e Lutero foi intimado a comparecer. Lutero foi para lá temendo por sua vida, pois os boatos que circulavam era que ele seria condenado e queimado.

Para a sua grande surpresa, muitos monges se mostraram favoráveis aos seus ensinamentos. Para outros, as disputas entre Lutero e Tetzel era apenas um caso da velha rivalidade entre agostinianos e dominicanos. Lutero regressou de Wittenberg fortalecido e feliz pelo apoio que obtivera de vários convertidos para a sua causa.

A Dieta de Augsburgo

O Papa então tomou outra atitude, comissionou Cardeal Cajetano, homem de grande erudição para em Augsburgo conduzir uma reunião com todas as grandes autoridades alemãs e também para conversar com Lutero e fazê-lo retratar-se, caso contrário seria preso e levado à Roma.

A Dieta do Império em Augsburgo era voltada principalmente para convencer os príncipes alemães de uma cruzada contra os turcos e também levantar um novo imposto para esse fim. Os Turcos ameaçavam as fronteiras do Império e no intento de combatê-los, o Papa estava aceitando até o apoio dos hussitas da Boêmia.

Frederico, o sábio, eleitor da Saxônia, responsável pela jurisdição onde vivia Lutero, obteve do Imperador Maximiliano um salvo conduto para o frade, a quem prometeu ajudar em Augsburgo, mesmo lembrando que pouco mais de cem anos atrás, nas mesmas circunstâncias, Jan Huss havia sido queimado em descumprimento de um salvo-conduto imperial.

O diálogo com Cajetano não produziu bons frutos. O Cardeal se mostrava intransigente e exigia a retratação do Monge. Lutero por sua vez só aceitava se retratar se fosse convencido teologicamente que estava errado. Por fim, vendo que o Cardeal poderia não cumprir o Salvo-conduto, Lutero fugiu à noite da cidade e regressou a Wittenberg apelando a um Concilio Geral.

Durante todos estes acontecimentos a doutrina de Lutero era cada vez mais divulgada e prevalecia sobremaneira; e ele mesmo recebeu ânimo dos alemães e de outros povos. Nesse tempo, os boêmios lhe enviaram um livro celebre de John Huss, e também cartas nas quais o exortavam à constância e à perseverança e reconheciam a pureza e a ortodoxia em sua doutrina.

Frederico, o Sábio, eleitor da Saxônia, protegeu Lutero todo o tempo, achava que Lutero deveria passar por um julgamento justo, pois a principal preocupação de Frederico era ser um governante sábio e justo, por isso mesmo fundou a Universidade de Wittenberg.

As pressões sobre Frederico e Lutero aumentavam quando então Maximiliano morreu e deixou o Trono alemão vago, sendo, portanto, necessário eleger um novo  Imperador. Os dois candidatos mais poderosos ao Trono eram Carlos I, da Espanha (filho de Joana a Louca, e de Filipe o Belo neto de Isabel) e Francisco I, da França.

Papa Leão não queria apoiar nenhum desses dois candidatos, pois ambos eram poderosos demais e poderiam ameaçar o Papado com o poder sobre a Alemanha caso algum deles subisse ao Trono germânico.

Roma decide então apoiar Frederico, o Sábio, pois era respeitado por todos os demais senhores alemães e manteria o equilíbrio entre as potencias europeias caso fosse eleito. Como Frederico era protetor de Lutero, Leão resolveu prorrogar a condenação do monge agradando assim o seu candidato.

O Debate de Leipzig: Lutero x Eck

A trégua para com Lutero se manteve por certo tempo até ser quebrada pela astúcia do Teólogo Conservador João Eck, professor da Universidade de Ingolstadt, que ao invés de atacar Lutero, atacou a Carlstadt que era outro professor de Wittenberg e que tinha se convencido das Teses de Lutero e era até mais veemente do que Lutero na defesa delas.

Eck desafiou Carlstadt para um debate que ocorreria na Universidade de Leipzig, dada o teor das questões, ficava claro que o propósito de Eck era atacar Lutero via Carlstadt. O reformador caiu na isca e disse que também participaria do debate em Leipzig.

O debate transcorreu por vários dias, cumprindo toda formalidade acadêmica e teológica, quando chegou o dia de Lutero e Eck se enfrentarem, ficou claro que Lutero conhecia bem melhor as Escrituras e Eck ficava mais à vontade no Direito Canônico e na Teologia Medieval.

Eck forçou o debate para o seu próprio campo, fazendo Lutero confirmar que o Concílio de Constança errou ao condenar Huss e que um cristão com a Bíblia, no seu entendimento, tem mais autoridade do que o Papa e os concílios contra ela.

Mesmo Lutero ganhando em argumentos do seu oponente, o debate conseguiu cumprir os propósitos de Eck, que conseguiu demonstrar que Lutero era um “herege” pois defendia outro herege condenado em um concilio ecumênico, no caso, João Huss.

Começa então um novo tempo de confrontações e perigos para Lutero, mas dessa vez, seu apoio crescia, principalmente entre os teólogos acadêmicos de toda a Alemanha, dos humanistas que também queriam uma Reforma e dos nacionalistas alemães, para os quais o monge era o porta voz principal contra os abusos de Roma.

A Bula Papal contra Martinho Lutero

Muitos cavalheiros alemães enviaram mensagens a Lutero prometendo-lhe apoio armado caso o conflito chegasse a estourar. Quando o Papa resolveu tomar uma atitude cabal já era tarde demais. Na bula Exsurge domine, Leão X declarou que um “javali selvagem tinha penetrado na vinha do Senhor”. O papa ordenou que os livros de Lutero fossem queimados, e deu ao monge sessenta dias para submeter-se à autoridade romana, sob pena de excomunhão e anátema.

Devidos às circunstâncias políticas, a bula demorou bastante tempo para chegar até Lutero. Em alguns lugares chegaram a queimar seus livros, mas em outros, os estudantes e partidários do Monge, preferiram queimar as obras que se opunham ao movimento da Reforma.

Quando enfim, a bula chega até Lutero, este decide queimá-la junto com outros livros que continham as doutrinas papais. O rompimento já era definitivo e sem volta. Carlos I da Espanha havia ganhado a eleição ao comando da Alemanha, e o papa esperava qual seria a reação do novo Imperador sobre o assunto.

Conquanto Carlos fosse católico, este preferiu utilizar a questão como arma contra o Papado que tendeu o apoio para o Rival Francês Francisco I. Posteriormente, depois de muito imbróglio, decidiu-se que Lutero compareceria diante da dieta do Império, reunida em Worms em 1521.

A Dieta de Worms

Quando Lutero chegou a Worms, tinha apoio popular, mas foi levado à frente do Imperador e de vários príncipes do Império. Seu interrogador mostrou seus livros e perguntou se o monge continuava a defender tudo que estava escrito ali. Lutero temendo o Imperador mas temendo mais ainda a Majestade Divina, pediu um dia para dar sua resposta.

Martinho Lutero e a Dieta de Worms

No outro dia, em meio ao maior silêncio,  e cercado pela guarda espanhola do Imperador (fato que os alemães não viam com bons olhos), pergunta-se outra vez a Lutero se ele se retrataria de seus escritos e ensinos. O Monge respondeu que o que havia escrito não era mais do que a doutrina Cristã que tanto ele quanto seus inimigos conheciam e que portanto ninguém deveria pedir-lhe retratação disso.

Seu interlocutor insistiu: “Retratas-te ou não”? Lutero respondeu em alemão, desdenhando do Latim dos Teólogos. “Não posso nem quero me retratar de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é justo nem seguro. Deus me ajude. Amém”.

Carlos V fez com que se redigisse um edito, datado de 8 de maio, decretando que Martinho Lutero, em conformidade com a sentença do papa, fora declarado membro separado da Igreja, cismático e um herege obstinado e notório.

Lutero parte para a ofensiva

Lutero ficou confinado no castelo de Wittemberg durante cerca de dez meses. Depois disso, voltou a aparecer em público  no dia 6 de março de 1522. Lutero começou a promover então uma guerra aberta ao papa e ao clero, com a finalidade de conseguir que o povo menosprezasse a autoridade destes.

Enquanto a bula de Leão X, aceita por Carlos V, era divulgada por todo império, Lutero em seu confinamento,  escreveu um livro contrário a essa bula e outro intitulado ” A Ordem Episcopal” . Também publicou uma tradução do Novo Testamento em alemão, que posteriormente foi revisada por ele e por Felipe Melanchton.

A origem do termo “Protestante”.

Em 1527, Lutero sofreu um ataque de coagulação de sangue ao redor do coração, que quase pôs fim à sua vida.

A Alemanha estava em grande confusão e a Itália também, pois surgiu uma contenda entre o Papa e o Imperador, durante a qual Roma foi tomada por duas vezes, e o pontífice, preso. Enquanto os príncipes estavam ocupados com essas questões, Lutero levava adiante a Reforma, opondo-se aos papistas e também combatendo os anabatistas e outras seitas radicais que aproveitando-se do momento “pipocavam” em vários lugares.

Ao constatar que as perturbações na Alemanha não pareciam ter fim, o imperador achou por bem, convocar uma dieta na cidade de Spira, em 1529, para pedir ajuda aos príncipes do Império contra os turcos.

Os reformadores de 14 cidades alemãs, ou seja: Estrasburgo, Nuremberg, Ulm, Constanza, Rettingen, Windsheim, Memmingen, Lindow, Kempten, Hailbron, Isny, Weissemburg, Nortlingen e St Gal, uniram-se contra o decreto da dieta e emitiram um protesto contra as sanções que lhe foram impostas, o qual redigido e publicado em abril de 1529, foi o célebre documento que deu aos reformadores da Alemanha o nome de “Protestantes”,

Em 1533, Lutero, escreveu uma epístola consoladora aos cidadãos de Oschatz, que haviam sofrido algumas penalidades por terem aderido à Confissão de fé de Augsburgo; e, em 1534, foi impressa a Bíblia que Lutero havia traduzido para o Alemão, como protótipo do antigo acordo fechado em Bibliópolis, por mãos do mesmo editor e que foi publicada no ano seguinte.

Lutero também publicou nesse mesmo ano, um livro intitulado: “Contra as Missas e a Consagração dos Sacerdotes”.

Como morreu Martinho Lutero

Em fevereiro de 1537, foi celebrada uma Assembleia em Smalkalda sobre questões religiosas, para qual Lutero e Melancton foram convidados. Durante essa reunião, ele ficou tão doente, que não havia esperança de que se restabelecesse. Enquanto o levam de volta, escreveu o seu testamento, no qual legava a seus amigos e irmãos o seu desdém pelo papado.  Ainda assim, esteve ativo por mais nova anos.

Em 1546, na companhia de Melancton, foi à Saxônia, sua província natal, que há muito tempo não visitava, foi também para resolver algumas questões religiosas que lhe chamaram para mediar e ali chegou são e salvo. Na sua chegada, foi recebido por mais de cem ginetes e conduzido de maneira muito honrosa. Porém, ficou tão enfermo nessa ocasião que se temeu que pudesse morrer.

como morreu lutero

Lutero disse então, que este ataques de enfermidade lhe sobrevinham quando tinha qualquer grande obra a empreender. Porém, nessa ocasião, não se recuperou, mas morreu no dia 18 de fevereiro aos sessenta e três anos de idade.

Pouco antes de expirar, admoestou àqueles que estavam em volta de si a que orassem a favor da propagação do Evangelho, e disse-lhes: “Porque o Concílio de Trento, que teve uma ou duas reuniões, e o papa, inventarão coisas estranhas contra o Evangelho”.

A Oração Final de Lutero

Ao sentir que chegava o seu desfecho final, antes das nove horas da manhã, encomendou-se a Deus com esta oração: “Meu Pai Celestial, Deus eterno e misericordioso!Tu manifestaste a mim o teu amado Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ensinei a respeito Dele, e tenho-o conhecido; amo-o da mesma forma que preservo a minha própria vida, minha saúde e minha redenção; a quem os malvados têm perseguido, caluniado e afligido com vitupérios. Leva a minha alma a Ti”.

Depois disto, citou a frase a seguir, e repetiu-a três vezes: “Em tuas mãos entrego o meu espírito.  Tu me remiste, ó Deus, de verdade!”

Em seguida citou João 3: 16: ” Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Após repetir as suas orações várias vezes, foi chamado à presença de Deus. Desta forma, a sua alma limpa foi pacificamente separada de seu corpo terreno.

Contra Reforma Católica e Luteranismo

Lutero foi ajudado por Felipe Melanchton na formulação de suas obras, teses e doutrinas. Malanchton foi um professor Grego na Universidade de Wittenberg e que redigiu a Confissão de Augsburgo em 1530 que se tonou o credo Luterano.

O Movimento Luterano se tornou muito abrangente, atingindo Suécia, Dinamarca e Países Baixos. Várias outras doutrinas e igrejas seguiram seus principios, se tornando nacionais como o Anglicanismo na Inglaterra, Calvinismo na Suíça e outras ramificações que também se tornaram movimentos políticos e sociais.

Até mesmo a Igreja Católica, influenciada pelo Luteranismo, resolveu fazer uma espécie de Reforma que ficou conhecida como Contra Reforma para tentar barrar ou amenizar a força do protestantismo.

Frases famosas de Martinho Lutero

A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes, e a teologia, pecadores

Quem não for belo aos vinte anos, forte aos trinta, esperto aos quarenta e rico aos cinquenta, não pode esperar ser tudo isso depois.

A mentira é como uma bola de neve; quanto mais rola, tanto mais aumenta.

Os que amam profundamente, jamais envelhecem; podem morrer de velhice, mas morrem jovens.

Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno.

O coração do homem é como um moinho que trabalha sem parar. Se não há nada para moer, corre o risco de se triturar a si mesmo.

Nada se esquece mais lentamente que uma ofensa e nada mais rápido que um favor.

Casamento e filhos de Martinho Lutero

Martinho Lutero largou o celibato e casou-se em 1525 com Catarina de Bora (Katharina Von Bora) uma freira que abandonou o Convento influenciada pela própria Reforma Protestante. Lutero teve 6 filhos com Catarina que foram:

Hans, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margarethe

Prováveis doenças de Lutero:

Lutero foi acometido por algumas doenças que o debilitaram no fim da vida. Provavelmente ele sofreu de:

Doença de Meniere;

Enterocolite;

Pedra nos Rins.

Lutero e os Cinco Solas

Lutero deu base para a fórmula do princípio das Cinco Solas, que são:

Sola fide (somente a fé);

Sola scriptura (somente a Escritura);

Solus Christus (somente Cristo);

Sola gratia (somente a graça);

Soli Deo gloria (glória somente a Deus).”

Pequeno Resumo sobre Martinho Lutero

  • Lutero foi monge agostiniano que questionou a cobrança de indulgências por parte do alto clero da Igreja Católica, influenciado pela descoberta teológica da Salvação pela Fé.
  • Na Dieta de Worms, Lutero foi convocado a confirmar ou negar o que escrevera, depois de uma grande reflexão, temendo mais a Deus do que os homens,  ele confirmou. Isso o fez ser excomungado e  banido do Sacro Império Germânico.
  • Abandonou o Celibato e Casou-se com uma ex-freira influenciando outros religiosos a fazerem o mesmo.
  • Fez a primeira tradução da Bíblia para o alemão que se espalhou rapidamente devido a ajuda do advento da Imprensa.

Referências do Artigo Martinho Lutero: Vida e Obra – Reforma Protestante – Resumo

Justo L Gonzalez. História Ilustrada do Cristianismo Volume 2

O Livro dos Mártires. John Fox

 


1 comentário

Matinho Lutero: Vida e Obra – Reforma Protestante – Resumo — Exateus | · 03/07/2022 às 10:57

[…] Matinho Lutero: Vida e Obra – Reforma Protestante – Resumo — Exateus […]

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