Simão o Mago

Simão o Mago, personagem bíblico, é considerado o primeiro gnóstico da história, tendo suas doutrinas levadas adiante por seu discípulo Menandro. Simão aparece mais especificamente no Livro de Atos dos Apóstolos tentando comprar dos apóstolos o poder de conferir o Espírito Santo. (At 8.18-24). Depois de Menandro, o gnosticismo foi levado adiante por Saturnino. Outras vertentes do Gnosticismo já no início do século II incluíam Basílides e os ofitas ou naassenos.

Ireneu, em suas obras, principalmente no “Contra as heresias” , rebate doutrinas gnósticas de um mestre chamado Valentim e de seu discípulo chamado Ptolomeu, isso por volta de 150 d.C. Valentim era membro da Igreja de Roma e a deixou quando sua ambição de se tornar bispo não foi concretizada. As principais obras atribuídas a Valentim ou aos Valentinianos são: “O Evangelho da Verdade”, “Odes de Salomão” e “Carta a Flora” atribuída a Ptolomeu. Também podemos enxergar traços de gnosticismo em obras reconhecidas mais ou menos como ortodoxas, como por exemplo: “ O Pastor de Hermas”.

Os gnósticos Valentinianos, depurando, sofisticando e aproveitando a doutrina dos ofitas, pregavam que existia um “Plenitude” celeste que consistia em trinta seres angélicos chamados éons. Os éons se organizavam em pares de macho e fêmea. Esses pares conjugais emanavam éons inferiores da qual Sofia (Sabedoria) foi a última. Sofia se apaixonou pelo Éon supremo que já tinha a sua consorte. Sofia foi purificada de suas más intenções, mas o seu “Pensamento mau” foi expulso da Plenitude, assumindo depois uma forma personificada denominada mãe Achamoth.

Plenitude

Vejamos nas palavras de Bray (2017, pg 143) como se formou a Plenitude:

“ O Pai arquétipo, Bythus, impregnou sua semelhante éon, Sige, que deu à luz um filho, a quem chamaram de Nous. Sige, ao mesmo tempo, também gerou Aletheia (Verdade), embora não fique claro como isso aconteceu. Nous, por sua vez, deu luz a Logos e Zoe (vida), e deles veio Anthropos (Homem) e Ecclesia (Igreja). Isso continuou até que houvesse um total de trinta éons, organizados em uma hierarquia de oito, dez e doze, todos os quais constituíam a Plenitude (pleroma) divina.

Seguindo com Bray (2017, pg 143):

“ O mais inferior desses éons era Sofia (Sabedoria), que cometeu o erro de tentar inquirir as profundezas de Bythus, o que não estava autorizada a fazer. Ela devia ter sido destruída por isso, mas pela intervenção de Horus (Limite), que separou seu desejo, ignorância e dor. Ele, com essas características, formou Achamoth, a quem ele expulsou da Plenitude, permitindo à Sofia purificada conservar sua posição no céu.”

Achamoth vivia sem esperança, até que veio o “Cristo” coabitou com ela e nasceu o Demiurgo. Este foi o criador ignorante de todo o mundo material. Em algumas doutrinas gnósticas, o Demiurgo é identificado como Yahweh do Antigo Testamento, que erradamente, achava que era o único Deus Verdadeiro. Apenas os gnósticos detinham o conhecimento que Yahweh era um ser muito inferior à deusa Sofia.

Ainda com Bray (2017, pg 143)

Então, Nous, para manter a Plenitude em ordem, deu à Luz Cristo e o Espírito Santo, o primeiro para acalmar a inquietação dos éons e lhes da paz, e o último para torná-los agradecidos pelo que tinham. Nesse processo, todos os éons contribuíram para formar Cristo, de modo que é possível dizer que toda a plenitude de Deus habita nele, como queria o Pai.

Na citação acima, podemos perceber claramente, a adequação que os gnósticos fizeram da passagem de Colossenses 2:9. “ por que Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”.

Demiurgo

Para os Valentinianos, existiam três tipos de classe de pessoas, a saber: física, anímica e espiritual. As pessoas físicas são os pagãos incrédulos. As anímicas seriam os cristãos das igrejas cristãs tradicionais ou ortodoxas, que poderiam alcançar a salvação por meio de boas obras, mas que não possuíam a gnosis ou o conhecimento da verdade. Os espirituais, seriam então, os próprios gnósticos, seres humanos mais elevados, os únicos cristãos verdadeiros.

Aqui, também podemos perceber a adaptação do que Paulo escreveu sobre o homem carnal, natural e espiritual.

Demiurgo (Yahweh) deu luz a um filho que era cheio da semente espiritual da mãe Achamoth, que revelaria mais sabedoria aos gnósticos espirituais, era o “Cristo”, que passou por Maria sem assumir um corpo gerado por ela. Os gnósticos pregavam que o Cristo habitou o corpo do homem Jesus de Nazaré, mas seu corpo não era verdadeiramente carne, doutrina que é conhecida como “docetismo”.

Por meio da ação purificadora do Cristo, os gnósticos adquiriam conhecimento para finalmente chegarem à Plenitude.

Exemplos de Gnosticismo na atualidade:

Sociedade Teosófica

Igreja da Cientologia

Igreja apostólica gnóstica dos Estados Unidos

O Livro o Código da Vinci, também é expressão dessa religiosidade esotérica, por isso, não é coincidência o nome da personagem principal ser Sofia.

Perenialismo e Olavo de Carvalho

Podemos incluir também o Perenialismo dentro do gnosticismo, para o Perenialismo, as aparições de Maria seriam a grande Deusa Sofia trazendo mensagens aos homens, assim como também todas as deusas da antiguidade como Asterot, Isis, Diana, Rainha dos Céus, eram emanações de Sofia. No Brasil o auto-intitulando filósofo Olavo de Carvalho é apontado como um Perenialista, lembrando que o perenialismo age nas sombras das grandes religiões, se escondendo como um cavalo de Troia.Olavo de Carvalho

A verdade é que toda vez que se tenta em grande escala mesclar ou complementar o Cristianismo com a Filosofia grega, aquele se torna gnóstico.

De acordo com Hipólito, uma importante diferença entre Valentim e Basílides era que o primeiro “podia ser justamente considerado um pitagórico ou platônico” (Hip. Her. 6.29.1 [GCS 26:155]) enquanto “as doutrinas desenvolvidas por Basilides, na verdade, são sagazes críticas minuciosas de Aristóteles” (Hip. Her 7.14 [GCS 26:191]).

Não foi por coincidência que Olavo se tornou um especialista em Aristóteles, aliás o próprio Tomás de Aquino ao se embasar em Aristóteles acabou dando base teológica ao gnosticismo da Igreja Católica que abandonou a base judaica do Cristianismo para se impregnar de Filosofia Grega.

É por isso que Lutero, considerado o pai do protestantismo, é tão odiado por católicos tomistas, pois Lutero foi um ferrenho crítico de Aristóteles. Aliás, o protestantismo (taxado de fideísmo por católicos tridentinos), é o principal obstáculo ao perenisalismo aristotélico, que se embasa na mediação dos sacramentos e dos santos para a justificação de toda uma espécie de doutrina gnóstica, seja ela explicita mas despercebida (exoterismo) ou velada e dissimulada (esoterismo)! Por isso toda raiva de Olavo ao protestantismo.

Assista Também em Vídeo:

Referências

Bray, Gerald. História da Teologia Cristã. São Paulo: Shedd Publicações, 2017.

Liftin, Bryan M. Conhecendo os pais da Igreja: uma introdução evangélica. São Paulo: Vida Nova, 2015

Pelikan, Jaroslav. A tradição cristã: uma história do desenvolvimento da doutrina: o surgimento da tradição católica 100-600 , volume 1. São Paulo: Shedd Publicações, 2014.


1 comentário

Inácio de Antioquia - O Portador de Deus - Exateus · 25/07/2020 às 22:51

[…] os Gnósticos o Corpo de Jesus Cristo não era real, de modo que não ligavam para as realizações de Jesus no […]

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