Tudo indica que Clemente de Alexandria, na verdade, era natural de Atenas na Grécia. Seus pais eram pagãos. Depois de convertido, Clemente viajou procurando quem pudesse ensiná-lo mais a cerca do Cristianismo. Encontrou em Alexandria um mestre chamado Panteno do qual se tornou discípulo.
Assista em vídeo essa aula sobre Clemente:
Clemente se estabeleceu então em Alexandria, sucedeu Panteno depois de sua morte, mas teve que abandonar a cidade diante da perseguição de Sétimo Severo. Clemente não foi pastor como Ireneu, mas foi um intelectual e mestre de intelectuais.
Seu objetivo maior era de convencer os intelectuais pagãos que o Cristianismo não era uma religião absurda como diziam os seus inimigos. Em sua obra “Exortação aos pagãos“, Clemente tenta mostrar que boa parte das doutrinas cristãs encontram apoio nos ensinos de Platão.
Para Clemente, qualquer verdade que Platão tenha conhecido não pode destoar da Verdade que Jesus Cristo e os profetas revelaram nas Escrituras. Para ele, a filosofia foi dada aos gregos da mesma forma que a Lei foi dada aos judeus através de Moisés.
Clemente de Alexandria e a Filosofia
Com os judeus, Deus estabeleceu o pacto da Lei, com os gregos, o da Filosofia. Para Clemente o Texto Sagrado contém Alegorias com mais de um sentido. Quem fica apenas com o sentido literal fica como menino que só bebe leite e nunca chega a ser adulto.
Para Clemente o “Sábio” vai além do sentido literal das Escrituras e dos rudimentos da fé. No entanto, a exegese alegórica de Clemente, encontra na Bíblia doutrinas que estão presentes antes da Filosofia de Platão.
Deus é um ser Inefável que deu-se a conhecer pelo Verbo que encarnou em Jesus Cristo. Clemente segue a Justino e também ao judeu Filo de Alexandria. Apesar de tudo, podemos dizer que a Teologia de Clemente é verdadeiramente Cristocêntrica.
A Tradição de Alexandria
Concluindo podemos observar que o pensamento de Clemente segue toda uma tradição de Alexandria de conciliar a fé com a razão que se tornará mais completa com a Teologia de Orígenes. Essa doutrina acaba recebendo muitas críticas como sendo uma Teologia elitista.
“A Igreja posterior não incluiu Clemente entre os seus reconhecidos santos. Pouco se conheceu a respeito dele, e alguns de seus ensinamentos pareciam suspeitos. Ele foi julgado sobretudo pelo ponto de vista de uma época diferente… Clemente foi sem dúvida alguma, o “menos eclesiástico” de todos; em outras palavras, aquele foi foi o mais indiferente à Igreja organizada” (Campenhausen. pg 39-40).
Clemente de Alexandria por Eusébio de Cesareia
Vamos ver agora o que relata Eusébio de Cesareia sobre Clemente em seu ilustríssimo Livro: História Eclesiástica:
Nessa época, também, notabilizou-se Clemente em Alexandria, do mesmo nome daquele que antigamente presidia sobre a igreja de Roma (Clemente de Roma) e fora discípulo dos apóstolos.
Esse Clemente era devotado ao estudo das mesmas Escrituras que Panteno e, em suas Instituições, menciona expressamente por nome a este como seu mestre.
Parece-me que ele também designa este mesmo no primeiro livro de sua Stromata, quando destaca os que mais se distinguiram na sucessão apostólica, que recebera por tradição, com as seguintes palavras:
“Esses livros”, diz Clemente, “não foram fabricados como uma obra de Ostentação, mas foram colecionados por mim como um tipo de comentários para minha idade avançada e antídoto contra o esquecimento, como imagem natural e esboço daquelas doutrinas eficazes e inspiradas que tive a honra de receber daqueles homens benditos e verdadeiramente excelentes.
Um desses foi Jônio na Grécia e outro na Grande Grécia; um deles sendo sírio, o outro nativo do Egito. Havia outros, porém, vivendo no Oriente; e, desses, um era da Assíria, outro da Palestina, hebreu por descendência.
O último que encontrei era o primeiro em excelência. Encontrei-o escondido no Egito, e achando-o ali, parei de estender minha busca além dele, pois não possuía superior capacidade.
Esses, de fato, preservaram a verdadeira tradição da sã doutrina que, conforme dada por Pedro e Tiago, João e Paulo, havia passado de pai para filho. Ainda que haja poucos como seus pais, estes, pelo favor de Deus, também chegaram a nós para plantar a semente antiga e apostólica de igual modo em nossa mente.
As Obras de Clemente por Eusébio
De Clemente de Alexandria, restam ao todo, oito livros chamados “Stromata, aos quais prefixou o seguinte título: “Stromata de Comentários, por Tito Flávio Clemente sobre o conhecimento da Verdadeira Filosofia”.
Igual em número a esses são os livros que levam o título Hipotiposes, ou Instituições. Neles também menciona Panteno por nome como seu mestre citando as ideias expressas por ele e as tradições que dele havia recebido.
Também há um livro de exortação, dirigido aos gregos. Também um intitulado Pedagogo e outro de título “Qual o Rico que pode ser Salvo”. Também uma obra sobre a Páscoa. Também discussões sobre o Jejum e a Calúnia.
Também uma Exortação à Paciência ou a um Discurso aos Novos convertidos (Neófitos). Também uma de título Cânon Eclesiástico ou um Discurso aos (Cristãos) judaizantes que dedicou ao bispo Alexandre, acima mencionado.
Nesses Stromata ele não só estende as divinas Escrituras (faz uma colcha) mas também cita dos gentios quando encontra alguma nota útil neles, elucidando muitas ideias mantidas pela multidão, tanto entre os gregos como entre os bárbaros.
Além disso, refuta as falsas opiniões dos heresiarcas. Ele também relata grande parte da história, em que apresenta materiais de grande variedade de conhecimento. A tudo isso ele mistura as opiniões dos filósofos; de onde, com toda probabilidade, tomou o título Stromata, em correspondência com os materiais (de seu livro).
Nisso também faz uso do testemunho dos Antilegômenos, as Escrituras discutidas; também daquele livro chamado Sabedoria de Salomão, e aquele de Jesus, filho de Siraque; também a Epistola aos Hebreus, de Barnabé, e de Clemente e de Judas.
Ele também menciona a obra de Taciano contra os gregos; também Cassiano, que escreveu uma história dos tempos em ordem cronológica. Além disso menciona autores judeus Filo, Aristóbulo, Josefo, Demétrio e Eupolemo, como todos eles em suas obras provam que Moisés e a nação judaica são muito mais antigas em sua origem que os gregos.
As obras desse escritor aqui mencionado também abundam em grande variedade de outros conhecimentos. Na primeira delas, ele fala de si como o seguinte na sucessão dos apóstolos e também promete em suas obras escrever um comentário de Gênesis.
Também em seu tratado sobre a Páscoa, reconhece que, para o bem da posteridade, era instado pelos amigos a se empenhar na escrita daquelas tradições que havia ouvido dos antigos presbíteros. Ele também menciona Melito e Ireneu e outros, também fornecendo algumas narrativas deles.
Referências sobre o Artigo Clemente de Alexandria
História Ilustrada do Cristianismo. Justo L. Gonzales
História Eclesiástica. Eusébio de Cesaréia. CPAD.
Os Pais da Igreja. Hans von Campenhausen.
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