SALVAÇÃO

Uma das frases mais polêmicas de toda Teologia e História da Igreja é a que diz que “Não há Salvação fora da Igreja”. Polêmica porque em algum momento algum grupo religioso a utiliza fora de contexto. Católicos a utilizam contra ateus e protestantes, protestantes a utilizam contra umbandistas, espíritas “desigrejados” e por ai vai.

Aliás vocês sabiam que hoje existe mais desigrejados do que crentes em qualquer denominação? Desigrejados para quem não sabe, são aquelas pessoas que se dizem cristãs, que já frequentaram uma igreja mas hoje não congregam mais por algum motivo. Ou porque não deram a paz do Senhor, ou porque o irmão olhou feio, ou porque o pastor roubou e etc…

Nesse texto nós iremos falar em que contexto foi dita a frase que não há Salvação fora da Igreja e quem a falou. Quem a falou foi Cipriano de Cartago, não confundir com o Cipriano de Antioquia que é mais conhecido como São Cipriano que tinha sido ex- feiticeiro e que também morreu martirizado.

O Cipriano que cunhou a dita frase é uns 50 anos mais velho do que seu homônimo mais famoso. Era um orador habilidoso como seu inspirador Tertuliano.  Cipriano cunhou essa frase no período em que apareceram as primeiras pessoas que negaram a Jesus diante das perseguições de Roma.

A Perseguição foi na época do Imperador Décio, era uma geração cristã nova que só conhecia os martírios de ouvir falar, os últimos haviam acontecido há pelo menos 50 anos atrás na época de Sétimo Severo. Quando Décio baixa um decreto para que todos cultuassem os deuses romanos e queimasse incenso em homenagem ao Imperador, muitos cristãos se desesperaram.

Muitos cristãos fizeram o que as autoridades romanas estavam exigindo e ascenderam incenso ao Imperador e cultuaram as divindades pagãs. Outros cristãos perante o martírio também negaram aJesus e houve um grupo de cristãos mais ricos que compraram certificados falsos pois todos que adoravam recebiam um certificado e quem não tivesse esse certificado seria preso e receberia sanções.

No entanto, a perseguição passou e muitos dos que negaram a fé queriam retornar à Igreja. Cipriano que era bispo de Cartago queria rigidez na readmissão desses cristãos, já um grupo composto por pessoas que aguentaram firme as torturas e não abandonaram a fé cristã, chamados de Confessores, queria admitir de volta a todos.

Houve um racha na Igreja de Cartago por causa desse assunto então  um Sínodo de bispos fora convocado por Cipriano e a questão ficou resolvida da seguinte maneira:

Os que tinham comprado certificados e não sacrificaram aos ídolos poderiam ser admitidos novamente na Igreja perante o arrependimento. Os que tinham sacrificado e que se arrependeram, só seriam readmitidos na Igreja, perante o leito de morte. Os que tinham sacrificado e não se arrependeram, não seriam admitidos nunca mais na Igreja, nem perante o leito de morte.

Foi Cipriano, que nesse contexto cunhou a frase: “Fora da Igreja não há Salvação”, pois para Cipriano a Igreja era o Corpo de Cristo e Cristo o cabeça. Cipriano como um rígido seguidor do rígido Tertuliano, insistia que os traidores não fossem admitidos novamente à comunhão da Igreja, com extrema facilidade.

Novaciano

Muito mais rígido do que Cipriano foi Novaciano, que em Roma se opunha à maneira com que o bispo Cornélio admitia com facilidade à Igreja os que tinham caído. Produziu-se então um Cisma na Igreja de Roma também. Novaciano insistia que a Igreja devia ser pura, e as ações de Cornélio estavam maculando-a.

Foi por essas preocupações sobre o que fazer com os que caíram, como readmiti-los na Igreja ou não, que surgiu todo o sistema penitencial da Igreja católica  e a Reforma Protestante foi em grande parte um protesto contra esse sistema.

Então, não tem nada a ver, um grupo religioso utilizar essa frase para a exclusão de outro grupo religioso. O que se discute hoje em dia dentro da Teologia é o destino dos “não evangelizados” mas isso é assunto para um outro texto-vídeo até mais.

Referência:

História Ilustrada do Cristianismo. Justo L Gonzalez

 

 

 


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