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Clemente de Alexandria Prosperidade

Clemente de Alexandria foi um Mestre da Igreja Primitiva que escreveu contra as Heresias. Como Mestres da Igreja que caracterizam esse período, temos em sequência um quarteto mais importante composto por Ireneu de Lião, Clemente de Alexandria, Tertuliano de Cartago e Orígenes de Alexandria. Esses Mestres tinham a preocupação de Sistematizar doutrinas cristãs contra o Gnosticismo que nessa época também já estava muito sistematizado.

Podemos dizer que o objetivo maior de Clemente de Alexandria era convencer os pagãos intelectuais que o Cristianismo não era uma Religião absurda como diziam seus inimigos. Sua Obra mais famosa nesse sentido apologético é sua “Exortação aos pagãos”.

No entanto, é sobre a visão que Clemente tinha das Riquezas e da Prosperidade que queremos tratar nesse Artigo. A época de Clemente, já adentrando no século III da nossa Era é caracterizada por grande adesão de pessoas da classe média e alta ao Cristianismo. Essa adesão já acontecia pouco a pouco na história da igreja, mas na época de Clemente ela já está bem consolidada devido ao trabalho de apologistas anteriores como Justino o Mártir. Obs: Essa época é anterior à Constantino.

Clemente como representante da Escola de Alexandria cuja as origens chegavam até o judeu Fílon, trabalhava muito com a Interpretação Alegórica das Escrituras. Para Clemente o Texto Sagrado contém Alegorias com mais de um sentido. Quem fica apenas com o sentido literal fica como menino que só bebe leite e nunca chega a ser adulto.

Foi usando sua interpretação alegórica que Clemente deu um novo sentido às Palavras mais fatais de Jesus contra a Riqueza que está na passagem do Jovem Rico. Clemente escreveu um tratado sobre esse assunto intitulado: “Quem é o Rico que será Salvo”?

Na Igreja primitiva a Salvação estava muito atrelada à questão da riqueza, principalmente por causa do “repartir dos bens” que vigorou fortemente durante esse período da Igreja. Nesse período a riqueza material não era muito bem vista e os ricos ficavam muito desesperados quando se deparavam com essa passagem do Jovem Rico e as interpretações que muitos religiosos antes de Clemente davam sobre ela.

Vamos à passagem de Mateus 19.16-30:

E eis que, aproximando-se dele um jovem, disse-lhe: Bom Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?E ele disse-lhe: Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos.Disse-lhe ele: Quais? E Jesus disse: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho;Honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo.Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.Os seus discípulos, ouvindo isto, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá pois salvar-se?E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível.Então Pedro, tomando a palavra, disse-lhe: Eis que nós deixamos tudo, e te seguimos; que receberemos?E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19:16-30

O principal norte de Clemente em seu tratado é que o caminho da Salvação não está totalmente fechado aos ricos, e o que conta acima de tudo, é o amor a Deus. É preciso salientar também para aqueles que acham que Clemente era condescendente,  que ele batia muito forte naqueles que bajulavam os ricos, vejamos suas palavras sobre isso:
“Aqueles que concedem falas elogiosas sobre os ricos parecem-me ser justamente julgados não só como bajuladores e subservientes (…) eles entorpecem ainda mais, inflando a mente dos ricos com os prazeres dos elogios extravagantes, e fazendo com que eles desprezem totalmente todas as coisas, exceto a riqueza, por conta da qual são admirados”.
No entanto, se a bajulação não é a atitude apropriada para com a riqueza, a condenação da mesma é pior ainda. Portanto, a melhor atitude para com os ricos, não é o insulto, nem a bajulação mas mostrar que a salvação deles é possível mas que exigirá alguma disciplina para isso. Esse é o propósito do trabalho de Clemente nessa área.

Vamos às próprias falas de Clemente em seu Tratado sobre à Passagem do Jovem Rico

Ele (Jesus) não propõe, como alguns concebem de imediato, que ele jogue fora a essência do que possui ou abandone sua propriedade; mas propõe que ele desarraigue de sua alma as noções que tem sobre a riqueza, sua emoção e seu sentimento mórbido em relação à ela, e também as ansiedades – os espinhos da existência que afogam a semente da vida.
Clemente vai dizer que o fato de o Jovem rico apenas se livrar de sua propriedade não seria algo tão especial, pois muitos filósofos da Antiguidade fizeram isso como os epicureus e cínicos. O que Jesus ordena ao jovem rico não é o ato exterior que outros fizeram , mas algo mais indicado por esse ato, o desarraigamento das paixões da própria alma.
Clemente prossegue com seu raciocínio e diz que se as palavras de Jesus fossem para ser interpretadas literalmente, então não poderíamos obedecer a seus mandamentos sobre a doação e o compartilhar, pois aqueles que não têm nada não podem alimentar os famintos e nem vestir os nus.
Se devemos dar a quem pedir, conforme ordenado pelo Senhor, como podemos fazer isso se nada for nosso? argumenta Clemente de Alexandria. Os bens e as posses não são em si mesmos maléficos ou benéficos, pois não passam de ferramentas cujo o malefício ou o benefício estão nas mãos de quem os manuseiam.
Para Clemente a Salvação não depende de coisas externas, pois é possível livrar-se de tudo o que se tem e anda continuar cobiçando poder e riquezas. É possível que o pobre seja permeado por vícios que, caracteristicamente pertence ao rico.
No entanto, não podemos taxar o pensamento de Clemente apenas como condescendente com a Riqueza, o seu conselho para uma pessoa que ama a riqueza a ponto de ela se tornar um obstáculo em sua vida é muito claro: “Abandone-a, odeie-a, renuncie e fuja dela.

Referência Clemente de Alexandria: O 1º Teólogo da Prosperidade (Jovem Rico)

Justo L. Gonzalez. Economia e Fé no inicio da era cristã. Hagnos.

 

 

 


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